Ódio. Violência. Radicalização.
Na reta final, alguns eleitores se desequilibram.
Era o caso do sr. Buffato.
No condomínio Torres de Vendeia, ele era conhecido pela firmeza de suas opiniões.
—Cartaz do Lula na fachada do prédio? Eu arranco no braço.
Os demais moradores do edifício se intimidavam.
—Bom mesmo. Avisa que eu já comprei mais munição.
Um interessante arsenal de armas legalizadas ficava logo no hall de entrada do luxuoso apartamento.
Um pouco de espiritualidade ajuda nessa hora.
Buffato convocou a família.
—Vamos orar. Por Bolsonaro e pelo Brasil.
Ele fechou os olhos.
—Livrai-nos do capeta... livrai-nos do canhoto.
—Aleluia.
—O Senhor é todo-poderoso.
—Sai, Satanás.
A tarde ia caindo com tonalidades sinistras para os lados do Jardim Batalha.
—Opa. Opa. Alguém ouviu alguma coisa?
A família não sabia responder.
—Vamos começar de novo.
As pálpebras do próspero empresário começavam a tremer.
—São eles... estão chegando.
—Quem, vô?
—Os emissários de Satanás.
Buffato correu para o hall.
—Chega de reza. Agora é bala.
Bateram levemente na porta.
A imagem se desenhou nítida nos olhos de Buffato.
—Cinco demônios. De chifre e tudo. Saci, vampiro... é invasão completa.
Ele disparou. Sem muita pontaria.
Ouviram-se gritos.
A família acorreu assustada ao local.
—São as crianças do prédio, Buffato.
—Esqueceu que hoje é Halloween?
—Coisa do diabo também, ora essa.
Tiago e Amanda, do apartamento 82, tiveram ferimentos leves e passam bem no hospital.
Os outros diabretes se recuperam na psicoterapia.
Já o sr, Buffato se recusa a qualquer tratamento.
—Ninguém pode me perseguir pelas minhas opiniões políticas.
A mente humana é capaz de produzir muita coisa.
Mas do cano de uma arma, em geral, o que sai é chumbo mesmo.
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