Fé. Certeza. Convicção.
O dr. Granadeiro não tinha dúvidas.
—O Bolsonaro já ganhou o segundo turno.
As pesquisas balançam.
—Estão escondendo o jogo.
O raciocínio dele era claro.
—A população do Brasil é basicamente honesta.
Ele respirou fundo.
—Logo, vota em candidato honesto.
O experiente empresário depositou delicadamente o cálice de vinho em cima da mesa.
—Só ladrão vota em ladrão.
No simpático bistrô francês La Chochotte, os amigos concordavam.
—Veja só a frequência do restaurante.
—Pessoas de bem.
—Gastando uma bela grana.
—Claro. Mas é dinheiro ganho honestamente.
O cardápio foi examinado em detalhe.
—Cento e oitenta reais a garrafa desse vinho?
O dr. Granadeiro encarou o fato com naturalidade.
—É o preço justo.
—Puxa... será que é vinho francês mesmo?
—Conheço o Pierre. Dono aqui do restaurante. Honestidade à toda prova.
Um elegante casal entrou no salão.
O dr. Granadeiro cochichou.
—Não é o ex-ministro da Educação?
—Aquele que não sabia português?
—Analfabeto total. Mas pelo menos era honesto.
—Com certeza, Granadeiro.
Na hora da saída, o manobrista informou o precinho do estacionamento.
—Oitenta reais.
—Bom. Pelo menos não roubam o meu carro.
Foi quando se deu a movimentação. O tumulto. O corre-corre.
O assaltante Tesourinha fugia entre os carros da fila de espera.
Granadeiro assistia à cena com tranquilidade.
—Esse aí vai ter vida curta.
Ouviu-se imediatamente o barulho das sirenes policiais.
—Não disse? Petista não tem futuro.
O PM Suarão começou a atirar.
Veio o imponderável.
Uma bala perdida atravessou o peito do dr. Granadeiro.
Na calçada, ele teve tempo de dizer suas últimas palavras.
—Morro. Mas pelo menos foi de um tiro honesto.
A vida humana é como uma refeição num bom restaurante.
Sempre chega a hora de pagar a conta.
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