Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

Voltaire de Souza - Voltaire de Souza
Voltaire de Souza

Calabresa for ever

Nem sempre é boa notícia quando tudo termina em pizza na vida de um casal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Chuva. Trânsito. Alagamento.

É a véspera do feriadão à moda paulistana.

Valter apoiou os pés na banqueta em frente do sofá.

—Não saio de casa de jeito nenhum.

O rapaz era executivo numa bem-sucedida empresa de planos de saúde.

--O trabalho não tem sido brincadeira.

A namorada dele se chamava Patrícia.

—Nem fale, amor. Você andou tão tenso...

—Você acha?

—Bom... você precisava relaxar um pouco, não acha?

Patrícia tinha trazido uma bela garrafa de vinho italiano.

Válter estava a fim de uma boa série de suspense.

—Essa do canibal pode ser uma boa.

—Coisa mais horrível, amor.

Válter respirou fundo.

—Olha. Vai ser essa, tá?

Era o momento de pedir uma pizza.

—Calabresa.

—Com filme de canibal? Ai, Valter, pelo amor de Deus.

—Pede meia marguerita.

—Não dá. Não suporto nem ver.

O casal terminou concordando numa de milho com catupiri.

O porteiro Azael avisou em tempo recorde.

—Entrega da pizza, Patrícia.

—Confere aí. Milho com catupiri. Se não for, devolve.

—Hã... espera... o entregador parece que está tendo problema...

De fato.

Jhonni já estava com as mãos levantadas.

O assaltante Danielson apontava uma arma.

A pizza foi embora com a moto de Jhonni.

Valter ficou de mau humor.

—Desliga essa joça de série.

Ele já estava ligando para outra pizzaria.

—Manda uma calabresa. Inteira. E capricha no molho de tomate.

Olhou com desprezo para Patrícia.

—Fica aí vendo o que quiser.

Ela clicou numa série romântica.

Emily em Paris... estava louca para ver.

Uma saladinha para acompanhar.

A chuva cobria a Marginal do Pinheiros de um véu cinzento.

O namoro ficou com cara de estar terminando.

Valter pretende passar o feriado no quarto. Sem falar com ninguém.

—Parece o Bolsonaro... atitude nais infantil.

—Grf. Nhoc, nhoc. Me feifa fuieto.

Na política e no amor, conciliar opostos é uma arte.

Mas pizza é como assalto a mão armada.

Uma hora, acaba a margem de negociação.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.