Voltaire de Souza

Crônicas da vida louca

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Bolsonarista, eu?

Radicalismo e quebra-quebra em Brasília leva pai de família a rever posições

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Brigas. Traumas. Rompimentos.

Nos últimos anos, a política dividiu seriamente as famílias brasileiras.

Terá chegado o momento da reconciliação?

O sr. Alípio guardava a camisa canarinho no fundo da gaveta.

—Tratar da vida...

A filha dele se chamava Roberta.

—E agora, hein, papai?

—E agora o quê?

—Os bolsonaristas estão querendo arrebentar com tudo, né? He, he, he.

—Como assim, Roberta? Como assim? Me explique.

As notícias chegam de Brasília.

Fogo. Pau. Pedra.

Adeptos do ex-capitão tentam invadir a Polícia Federal.

—Até ônibus estão queimando, papai.

O sr. Alípio fez cara séria.

—Ah, é? Quem disse?

Roberta mostrou imagens no celular.

—Olha aqui.

—Coisa da imprensa. Mentirosa como sempre.

Roberta ficou em silêncio.

O sr. Alípio tomou fôlego.

—De qualquer maneira, isso não tem nada a ver comigo.

—Como assim, papai?

—Nunca fui bolsonarista.

—Mas, papai... você foi em tudo que é manifestação.

—Não era a favor do Bolsonaro.

—Mas como? Você estava lá, gritando e tudo...

—Era a favor de eleições limpas. Esse sempre foi o meu ponto.

O sr. Alípio tirava suas conclusões.

—Esses aí, que foram fazer baderna na Polícia Federal, estão totalmente equivocados.

—Aí a gente concorda, papai... botar fogo em ônibus...

—Tinham de ter agido antes.

—É mesmo?

—E por fogo na Amazônia inteira, pô.

Roberta respirou fundo.

—Tudo bem, papai... pelo menos você não é bolsonarista.

—Sou brasileiro acima de tudo. E com Deus acima de todos. Agora, me chamar de bolsonarista... isso eu não admito.

O Natal promete ser um pouco mais tranquilo na família Troncoso Berretim.

Não é que eles fizeram as pazes.

—Essa menina ainda precisa deixar de ser comunista.

—Pelo menos ele anda mais quieto ultimamente.

Uma hora, a camisa da Seleção volta para a gaveta.

Mas a torcida não acaba nunca.

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