Descrição de chapéu universidade

Ciência no Brasil pós-Bolsonaro melhorou, mas ainda precisa de avanços, diz SBPC

Evento marcou abertura da semana anual de entidade de defesa à ciência e pesquisa no país

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São Paulo

A ciência brasileira se recupera após um período de ameaças constantes à democracia e que deixou cicatrizes na sociedade brasileira, afirmou nesta sexta-feira (21) o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Renato Janine Ribeiro.

No entanto, ainda são necessários avanços na área, principalmente no que diz respeito à recuperação do Fundeb, na política de valorização da educação básica e nos valores de bolsas de pós-graduação, que tiveram reajuste de 40% no último mês de março.

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Pesquisadora no Laboratórios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, onde serão criados os suínos que fornecerão órgãos para transplante em humanos - Karime Xavier - 26.abr.22/Folhapress

"Nós vemos que existem avanços, mas ainda defendemos que o reajuste seja na faixa dos 60% para conseguir recuperar o poder de compra de 2013. São medidas importantes", disse o também ex-ministro da Educação em uma cerimônia que marca o início da 75ª Semana Anual da SBPC no próximo domingo (23) na UFPR (Universidade Federal do Paraná), em Curitiba.

O evento aconteceu presencialmente na sede da universidade e contou também com a participação virtual de jornalistas e de servidores da universidade e da comunidade científica.

De acordo com Ribeiro, outro ponto que o governo atual foi cobrado é a demora no preenchimento das vagas em secretarias que controlam políticas na área. "Há uma demora no preenchimento destas vagas, e isso preocupa, pois vão definir as políticas públicas em ciência e tecnologia nos próximos anos. Somos uma entidade apartidária e sem vinculação ao governo e justamente por isso podemos elogiar o que acreditamos ser certo e fazer críticas às medidas de que discordamos", disse.

Ribeiro também afirmou que é fundamental que o governo mantenha o diálogo com a comunidade científica, especialmente considerando a necessidade de manter políticas públicas baseadas em ciência nas pastas ministeriais mais técnicas, como do Meio Ambiente, Saúde e Educação.

O tema da reunião anual da entidade científica é "Ciência e democracia para um Brasil justo e desenvolvido", onde o foco será discutir políticas públicas de recuperação da ciência, ensino e saúde numa era pós-Bolsonaro. Para tal, a escolha da cidade para sediar o evento foi simbólica.

"Não é um fato trivial que escolhemos fazer a nossa reunião aqui, porque sim, Curitiba é uma sociedade conservadora, mas é preciso lembrar que temos aqui um lugar que sempre fomentou a ciência, o Paraná sempre respeitou a pluralidade e a alma das universidades e este é um lugar de ensino e de democracia, mas também de ciência", disse o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca.

Na programação, estão mais de 90 conferências e palestras, com temas diversos como mudanças climáticas, nanotecnologia, inteligência artificial e uso de energias renováveis.

"Ciência e democracia são indissociáveis, e por isso mesmo é muito emblemático realizarmos a reunião anual nestas datas comemorativas, de 110 anos da UFPR e de 75 anos da criação da SBPC, principalmente em um ano em que tivemos muitas incertezas sobre o futuro democrático do país, tendo em vista o que ocorreu em 8 de janeiro", afirmou a pesquisadora e coordenadora-geral da 75ª edição da reunião, Claudia Linhares Sales.

A recomposição do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), no último dia 29, foi comemorado pelos membros da sociedade, mas é um lembrete de como a vigilância para manter o financiamento em ciência deve ser constante.

"Quando falamos de produção de conhecimento, mais de 90% da ciência brasileira é feita nas universidades públicas, e estas sofreram um corte de 50% do seu orçamento de 2015 a 2022. Sem a recomposição orçamentária em 2023 era provável que chegássemos agora ao meio do ano com as universidades quebradas", afirmou Fonseca.

Ribeiro voltou a lembrar pautas que, segundo ele, devem ser olhadas com atenção, sobretudo no que diz respeito aos direitos básicos em saúde e educação.

"Temos uma Constituição que garante a verba para saúde e educação para todos e a proteção dos povos indígenas, mas nada disso foi o suficiente para o antigo governo que desrespeitou todos esses valores. Por isso é preciso ter um espírito democrático forte para que estes sejam valores realmente consagrados na sociedade, não serem algo apenas de política de governo", disse.


75ª Semana Anual da SBPC

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