Pela 1ª vez, disco ao redor de estrela recém-nascida é visto fora da Via Láctea

Maior e mais luminoso que o Sol, corpo celeste fica na galáxia Grande Nuvem de Magalhães

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Will Dunham
Reuters

Nosso Sol e outras estrelas se formam quando um aglomerado denso de gás interestelar e poeira entra em colapso sob sua própria atração gravitacional. Quando uma estrela nasce no centro de uma nuvem desse tipo, o material remanescente forma um disco giratório ao seu redor que alimenta o crescimento estelar e muitas vezes dá origem a planetas.

Até então, estrelas recém-nascidas com esse tipo de disco só haviam sido observadas por astrônomos em nossa galáxia, a Via Láctea.

Isso mudou no último dia 29, quando pesquisadores disseram que avistaram um disco desse ao redor de uma estrela maior e mais luminosa que o Sol, localizada em uma de nossas galáxias vizinhas mais próximas, a Grande Nuvem de Magalhães.

Ilustração de disco ao redor da estrela HH 1177, maior e mais luminosa que o Sol, na galáxia Grande Nuvem de Magalhães - ESO/M. Kornmesser/via Reuters

A estrela, crescendo e acumulando material do disco, tem em torno de 10 a 20 vezes mais massa que o Sol e é talvez 10 mil vezes mais luminosa.

À medida que o material é atraído pela gravidade em direção a uma estrela em formação, ele se achata em um disco giratório. O disco recém-observado tem um diâmetro equivalente a 12 mil vezes a distância entre a Terra e o Sol, ou aproximadamente dez vezes maior do que aquele que cercava o Sol quando ele se formou há 4,5 bilhões de anos.

A estrela, que também está liberando um grande jato de material para o espaço, está a cerca de 160 mil anos-luz da Terra —um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, 9,5 trilhões de km.

"Isso é muito emocionante", disse a astrônoma Anna McLeod da Universidade de Durham, na Inglaterra, autora principal do estudo publicado na revista Nature.

"Embora saibamos que muitas estrelas como essa estão sendo formadas na Grande Nuvem de Magalhães e em outras galáxias, nunca tínhamos observado um disco de acreção circum-estelar fora da Via Láctea, sobretudo devido à falta de tecnologia", acrescentou ela. "Observar esses discos em outras galáxias é muito importante porque nos diz como as estrelas se formam em ambientes diferentes da Via Láctea."

A detecção foi feita usando o telescópio Alma (Atacama Large Millimeter/submillimeter) no deserto de Atacama, no Chile. Até agora, discos circum-estelares haviam sido detectados apenas a cerca de 6.500 anos-luz da Terra.

A Grande Nuvem de Magalhães é considerada uma galáxia satélite da Via Láctea, assim como a Pequena Nuvem de Magalhães. Ambas são menores que a nossa galáxia e possuem diferentes condições galácticas. A Grande Nuvem de Magalhães tem menos poeira do que a Via Láctea e um menor conteúdo do que os astrônomos chamam de elementos metálicos —aqueles que não são hidrogênio e hélio.

Os pesquisadores tiveram uma visão desobstruída da estrela.

"A estrela é visível em comprimentos de onda ópticos, enquanto todas as estrelas conhecidas na Via Láctea que são semelhantes a esta —em termos de massa estelar e com um disco de acreção— estão escondidas dos telescópios ópticos porque ainda estão muito envoltas pelo gás e poeira a partir dos quais estão se formando", disse McLeod.

"Sugerimos que a visibilidade da estrela no óptico se deve às diferentes propriedades do ambiente galáctico em que a estrela está, em comparação com a Via Láctea."

Estrelas massivas se formam mais rapidamente e têm vidas mais curtas do que estrelas menos massivas, como o Sol.

A formação de estrelas de alta massa tem intrigado astrônomos por décadas, e, portanto, construir uma imagem de como isso acontece em diferentes condições físicas é um passo importante e super emocionante", disse o astrônomo e coautor do estudo Jonathan Henshaw, da Universidade de Liverpool John Moores.

O disco parece ser bastante estável, não se fragmentando como poderia acontecer com tais estruturas.

"Não sabemos se o disco irá formar planetas, mas é improvável, dado que estes teriam que se formar no ambiente hostil de uma estrela com forte radiação", afirmou McLeod.

A astrônoma expressou esperança de detectar outros discos circum-estelares na Grande Nuvem de Magalhães e talvez na ainda mais distante Pequena Nuvem de Magalhães. "Com cada um deles, seremos capazes de aprender mais sobre a formação de estrelas em diferentes galáxias e condições."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.