Descrição de chapéu dinossauro

Fósseis que podem ser de titanossauro são encontrados durante obra em Minas

Fragmentos estão em 27 blocos localizados às margens da BR-050 na cidade de Uberaba

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Gisele Barcelos
Uberaba (MG)

Durante obra às margens da BR-050, 27 blocos com fósseis de cerca de 80 milhões de anos foram encontrados em Uberaba, a cerca de 420 km de Belo Horizonte. Os achados incluem costelas, vértebras e outros fragmentos ósseos que podem pertencem a um tipo de titanossauro que habitava a região.

Estima-se que os blocos contenham cerca de 32 fósseis. O lote foi entregue nesta quinta-feira (7) para análise da equipe do Museu dos Dinossauros da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).

Descoberto do mês passado para cá, o conjunto de fósseis foi retirado por uma equipe de paleontólogos. Os profissionais são contratados pela concessionária da rodovia para fazer o monitoramento de serviços realizados em áreas de potencial fossilífero ao longo dos 436,6 quilômetros da BR-050, entre as cidades de Delta, em Minas Gerais, e de Cristalina, Goiás. Os trechos foram identificados por meio de um levantamento prévio.

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1 dos 27 blocos com fósseis de cerca de 80 milhões de anos encontrados às margens da BR-050 em Uberaba, MG - Divulgação

Responsável pelo acompanhamento técnico dos serviços, o paleontólogo Paulo Macedo disse que foi possível verificar parte do material no local e que foram identificadas costelas, vértebras e outros fragmentos ósseos.

"Alguns desses materiais ficaram presos no talude e foi necessário o uso de equipamentos especiais para a retirada. Devido ao tamanho desses blocos, alguns com mais de 200 quilos, nós tivemos de fazer a preparação de parte dos fósseis no próprio local da obra para poder encaminhá-los ao museu", afirma.

Ainda segundo Macedo, é preciso aguardar os estudos científicos para identificar com precisão a qual espécie pertencem os fósseis.

"Ao que tudo indica, trata-se de um titanossauro, semelhante ao que foi encontrado há 20 anos na Serra da Galga, aqui em Uberaba. Só que aquele fóssil tinha 65 milhões de anos, enquanto estes de agora são um pouco mais antigos", posiciona.

O conjunto de fósseis recém-descobertos estava no mesmo local onde foi encontrado no mês passado um fóssil de 20 centímetros, que ainda está sendo analisado e pode ter pertencido à maior espécie de dinossauro que já viveu no Brasil: o Uberabatitan.

Com a concentração de fósseis na área, o paleontólogo adiantou que a equipe também fará um trabalho na outra margem da rodovia na busca por mais restos ou vestígios de animais e vegetais preservados em rochas.

A nova descoberta ocorre enquanto Uberaba aguarda o reconhecimento da Unesco para se tornar o primeiro território geoparque de Minas Gerais. O título é concedido a áreas ou locais com patrimônio geológico de relevância internacional dentro de uma visão holística de educação, conservação e desenvolvimento sustentável, alavancado pelo turismo.

Avaliadores da Unesco já estiveram na cidade para verificar in loco as potencialidades do território e a decisão final deverá ser anunciada em evento no começo do próximo ano.

Integrante do comitê científico da Associação Geoparque Uberaba, o paleontólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro afirma que o novo lote de fósseis encontrado põe a cidade em maior projeção nos estudos científicos e ainda fortalece as chances do território de obter a chancela da organização mundial.

"O material foi encontrado em uma área diferente da formação geológica Serra da Galga, que também fica no município e onde foram encontrados 90% dos fósseis da região. Cada achado fóssil da área desse outro geossítio é importante porque abre a possibilidade de serem dinossauros novos e também de entender melhor como eram esses ecossistemas [...] Isso perpetua a nossa região como a fonte primeira de dinossauros no Brasil."

Borges acrescenta que Uberaba já se destaca entre as localidades brasileiras no contexto paleontológico devido a outros achados, como o maior dente de titanossauro do mundo. O material foi descoberto há mais de dez anos durante escavações no geossítio Serra da Galga.

Depois de quase uma década de análise, os especialistas conseguiram confirmar que se trata do maior fóssil do tipo já catalogado no planeta e o resultado do estudo foi publicado em outubro deste ano na revista científica Cretaceous Research.

Mapeamento

Diante do histórico de descobertas, o Ministério Público definiu diretrizes para evitar danos ao material fossilífero em Uberaba e recentemente viabilizou a realização de um zoneamento paleontológico também dentro da zona urbana.

Idealizador da proposta, o promotor de Defesa do Meio Ambiente Carlos Valera diz que o mapeamento permitirá identificar com antecedência os locais dentro da cidade com potencial de presença de fósseis. Dessa forma, qualquer novo empreendimento nessas áreas deverá ser monitorado.

"Quem for edificar uma obra em Uberaba saberá se o local pode ter ocorrência de fóssil e poderá contratar previamente o profissional para o eventual resgate do material", explica.

O zoneamento será desenvolvido pela equipe técnica da UFTM. Para custear o trabalho, R$ 100 mil foram destinados pela prefeitura e mais R$ 100 mil, disponibilizados pelo Ministério Público.

Integrante da equipe responsável pelo mapeamento, o paleontólogo e professor Tiago Marinho diz que o estudo deverá ser iniciado neste mês. O trabalho deverá estar pronto em aproximadamente dez meses.

Segundo o profissional, o mapa será dividido em três cores: verde para regiões onde não há chances de ter rocha fossilífera; amarelo para sinalizar áreas com menor probabilidade de presença de fósseis e onde será necessário um levantamento prévio antes da construção; e vermelho para locais com alta incidência que demandam o acompanhamento especializado desde o início.

A expectativa é que o zoneamento paleontológico já seja utilizado no fim do próximo ano para a liberação de novas obras em Uberaba, atendendo às condições exigidas dependendo do setor.

Defendendo que o objetivo não é paralisar construções por tempo indeterminado, o responsável pelo mapeamento afirma que as novas regras não prejudicarão os futuros empreendimentos.

"Não deve impactar tanto os empreendedores, uma vez que o resgate paleontológico tem que ser feito rapidamente porque quando a rocha é exposta começa a ser decomposta pela chuva, sol e microrganismos que vão destruindo os fósseis. Não queremos atraso nas obras", argumenta.

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