Contato físico pode elevar bem-estar e diminuir a dor e a ansiedade

Revisão de estudos confirma os benefícios de toque e de abraços, sobretudo em bebês

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Joanne Silberner
The New York Times

Um abraço, um aperto de mão, uma massagem terapêutica. Um recém-nascido deitado no peito nu da mãe.

O toque físico pode elevar o bem-estar e diminuir a dor, a depressão e a ansiedade, de acordo com uma nova análise de pesquisas divulgada na última segunda (8) na revista Nature Human Behaviour.

Pesquisadores da Alemanha e dos Países Baixos revisaram sistematicamente anos de pesquisas sobre toque, carícias, abraços e massagens. Eles também combinaram dados de 137 estudos, que incluíram quase 13 mil adultos, crianças e bebês. Cada estudo comparou indivíduos que foram tocados fisicamente de alguma forma ao longo de um experimento —ou tocaram um objeto como um brinquedo de pelúcia— com indivíduos semelhantes que não foram tocados.

Mulheres se abraçam no Aeroporto Internacional de Hong Kong - Isaac Lawrence - 19.ju.21/AFP

Por exemplo, um estudo mostrou que massagens suaves diárias de 20 minutos por seis semanas em idosos com demência diminuíram a agressividade e reduziram os níveis de um marcador de estresse no sangue. Outro descobriu que massagens melhoram o humor de pacientes com câncer de mama. Um estudo até mostrou que jovens adultos saudáveis que acariciaram um bebê foca robótico estavam mais felizes e sentiram menos dor de um estímulo de calor leve do que aqueles que leram um artigo sobre um astrônomo.

Os efeitos positivos foram particularmente notáveis em bebês prematuros, que melhoram muito com o contato pele a pele, disse Frédéric Michon, pesquisador do Instituto Holandês de Neurociência e um dos autores do estudo.

"Houve muitas alegações de que o toque é bom, é saudável. O toque é algo que todos nós precisamos", afirmou Rebecca Boehme, neurocientista da Universidade de Linkoping na Suécia, que revisou o estudo para a revista. "Mas, na verdade, ninguém havia olhado para isso dessa perspectiva ampla e abrangente."

A análise revelou alguns padrões interessantes e às vezes misteriosos. Entre os adultos, pessoas doentes mostraram maiores benefícios para a saúde mental com o toque do que pessoas saudáveis. Quem estava tocando —uma pessoa familiar ou um profissional de saúde— não importava. Mas a fonte do toque importava para os recém-nascidos.

"Uma descoberta muito intrigante que precisa de mais apoio é que os bebês recém-nascidos se beneficiam mais do toque dos pais do que do toque de um estranho", disse Ville Harjunen, pesquisador da Universidade de Helsinque na Finlândia, que também revisou o estudo para a revista. A preferência dos bebês pelos pais pode estar relacionada ao olfato, especulou ele, ou às diferenças na maneira como os pais os seguram.

As mulheres parecem se beneficiar mais do toque do que os homens, o que pode ser um efeito cultural, disse Michon. A frequência do toque também importava: uma massagem a cada dois anos não vai fazer muita diferença.

Vários estudos incluídos na revisão analisaram o que aconteceu durante o auge da pandemia de Covid-19, quando as pessoas estavam isoladas e tinham menos contato físico com os outros. "Eles encontraram correlações durante a Covid entre a privação de toque e aspectos de saúde como depressão e ansiedade", disse Michon.

Tocar a cabeça parece ter um efeito mais benéfico do que tocar o tronco, alguns estudos descobriram. Michon não conseguiu explicar exatamente por que, mas levantou a hipótese de que pode ter a ver com o maior número de terminações nervosas no rosto e no couro cabeludo.

Outro mistério: estudos com pessoas na América do Sul tendiam a mostrar mais benefícios para a saúde em razão do toque do que estudos que analisaram pessoas na América do Norte ou na Europa. Segundo Michon, a cultura pode de alguma forma desempenhar um papel. Mas, na avaliação de Boehme, os estudos que mostram as diferenças entre os países eram muito pequenos para serem definitivos. "Acho que o mecanismo por trás disso é biológico", disse ela. "Acredito que é algo inato e será o mesmo para todos nós."

Em 2023, Jeeva Sankar, pesquisador em pediatria no All India Institute of Medical Sciences, e um colega publicaram uma revisão rigorosa do cuidado pele a pele para recém-nascidos. A análise concluiu que a terapia de toque para bebês prematuros ou de baixo peso ao nascer deve começar o mais cedo possível e durar oito horas ou mais, uma recomendação adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Sankar disse que a nova revisão é importante porque o toque muitas vezes é negligenciado nos cuidados médicos modernos. Ele fez a ressalva, porém, de que a revisão é muito ampla e que preferia que tivesse sido dado mais foco a formas de toque que poderiam ser integradas nos cuidados médicos.

Michon enfatizou que os tipos de toque considerados nesses estudos eram experiências positivas às quais os voluntários concordaram. "Se alguém não sente um toque como sendo agradável, é provável que isso os estresse."

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