Elefantes usam 'nomes' para se dirigir uns aos outros

Pesquisadores identificaram padrões em vocalizações gravadas em diferentes locais da savana do Quênia

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São Carlos (SP)

Será que elefantes têm "nomes" – não apelidos dados a ele por seres humanos, mas sons que eles mesmos usam para designar companheiros de espécie individualmente? A ideia é menos maluca do que parece, e um novo estudo traz evidências que dão peso considerável a essa hipótese, embora muitas dúvidas ainda permaneçam no ar.

A rigor, os elefantes não seriam nem os primeiros mamíferos não humanos a usar algo parecido com "nomes" para se dirigir uns aos outros. As primeiras descobertas a esse respeito foram feitas com golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus).

Esses cetáceos produzem uma vocalização conhecida como assobio-assinatura, uma sequência específica de sons produzida por cada indivíduo. Em certo sentido, é como se o animal nadasse pelo mar repetindo "Pedro Pedro Pedro Pedro". Outros golfinhos são capazes de imitar o assobio-assinatura alheio para interagir com o dono dele, como se dissessem "oi, Pedro!".

Dois elefantes africanos estão de frente um para o outro, entrelaçando suas trombas
Padrões em vocalizações de elefantes são semelhantes ao que se vê em golfinhos - George Wittemyer

Quando outros golfinhos usam o assobio-assinatura em referência ao indivíduo que o emite, há quem diga que isso seria significativamente diferente do uso que os seres humanos fazem de um nome, já que não passaria, no fundo, de uma imitação de um chamado que o outro animal emite rotineiramente. Algo parecido se dá com uma ave, o periquito Eupsittula canicularis, espécie da América Central que tem parentes no Brasil.

Os elefantes não têm nada semelhante aos assobios-assinatura, mas a espécie adota diferentes tipos de comunicação vocal complexa, destacam os autores do novo estudo, liderados por Michael Pardo, da Universidade Estadual do Colorado (sudoeste dos EUA). É comum, por exemplo, que fêmeas adolescentes ou adultas mantenham contato constante à distância (a mais de 50 metros) com filhotes por meio de sons de baixa frequência conhecidos como "rumbles" (algo como "ribombos"). A hipótese da equipe, em artigo que acaba de sair no periódico Nature Ecology & Evolution, é que os ribombos poderiam carregar informações similares a nomes.

Pardo e companhia usaram vocalizações gravadas em diferentes locais da savana do Quênia, na África Oriental, entre os anos 1980 e 2020. As informações sonoras foram incluídas numa análise de aprendizado de máquina, na qual o programa de computador tentava identificar padrões sonoros que se repetiam nas interações entre os indivíduos.

O que eles verificaram é que, embora os ribombos emitidos entre fêmeas e filhotes não tenham a mesma formulação sonora exata que vemos nos nomes humanos, os padrões são semelhantes o suficiente para propor que algo semelhante ao que se vê em golfinhos acontece entre os paquidermes.

Por exemplo, os diferentes ribombos emitidos por uma fêmea para o mesmo filhote são mais semelhantes entre si do que os chamados dessa mesma fêmea para outro elefantinho. Da mesma forma, quando diferentes fêmeas estão vocalizando para o mesmo filhote, esses chamados são mais semelhantes entre si do que quando os receptores do ribombo são diferentes. Com isso, os modelos computacionais podem ser usados para prever qual filhote está sendo chamado, mas isso só é possível usando os ribombos de uma mesma fêmea.

O mais interessante é que, em experimentos de playback –quando os chamados gravados eram tocados para os filhotes–, os elefantinhos reagiam mais rapidamente e com mais intensidade ao seu aparente "nome" do que a ribombos que, ao que tudo indica, não eram endereçados a eles.

Segundo os pesquisadores, não se pode descartar que os modelos computacionais estejam capturando apenas parte da complexidade informativa dos chamados dos elefantes, já que os programas foram calibrados originalmente para analisar sons produzidos pelo aparato vocal humano. Por outro lado, mais análises correlacionando dados comportamentais e de vocalização talvez ajudem a refinar a compreensão dos "nomes" dos paquidermes em futuros estudos.

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