Publicada em maio na Folha, a foto de Pedro Ladeira era um chamariz para qualquer hacker. Com se sabe hoje, nem precisava ser um especialista russo. Um amador de Araraquara facilmente daria conta do serviço e botaria no bolso as intimidades de meia República, cerca de mil telefones, incluindo os do presidente Bolsonaro, dos chefes da Câmara e do Senado, do ministro Sergio Moro e de procuradores da Lava Jato.
A imagem capturada pelo fotógrafo mostrava a atuação na Câmara de sete deputados, todos do PSL, durante a votação da retirada do Coaf da alçada do ministro Moro —quem lembra? Mas o que na verdade revelava era que eles não estavam nem aí para a importante questão, porque só tinham olhos, mãos e dedos para seus celulares. São os chamados parlamentares youtubers.
É a nova maneira de se fazer política —quer dizer, fazer live em busca de like. Às favas com o debate entre os pares no Parlamento. Cada bolha particular virou um universo. O que importa é produzir conteúdos para (como se diz mesmo?) lacrar nas redes sociais, abordando em geral os temas menos relevantes para a vida do país. Quanto mais espalhafato, melhor, pois aumenta a audiência. O delírio performático não escolhe lado: vale tanto para a direita quanto para a esquerda.
Num mundo tão dependente dos celulares, é natural que eles se tornassem alvo dos invasores de privacidade. O espantoso é a facilidade com que os ataques foram realizados. Parece brincadeira de criança. Ficamos sabendo que Bolsonaro recebeu, quando assumiu o mandato, um celular criptografado, que ele não usa porque o aparelho protegido não permite a instalação de aplicativos como Instagram, Twitter, WhatsApp, Telegram —este último o canal utilizado para as invasões.
Pensando bem, Bolsonaro não precisa de nenhum hacker para lhe queimar o filme. Basta abrir a boca e começar a falar.
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