Descrição de chapéu Coronavírus

'Você não é presidente mais', diz haitiano a Bolsonaro após crise do coronavírus

'Você está espalhando o vírus e vai matar os brasileiros', disse haitiano após incentivo e participação de presidente nos atos pró-governo

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São Paulo

Um vídeo que circula nas redes sociais, supostamente gravado na noite desta segunda-feira (16), mostra um imigrante haitiano afirmando para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que o governo dele acabou.

O vídeo foi gravado em frente ao Palácio da Alvorada, no famoso cercadinho em que apoiadores fazem diariamente contato com o presidente.

Estranhamente apático, Bolsonaro desce do carro, mantém distância dos apoiadores e sugere que eles façam perguntas.

O haitiano, então, começa a falar. "Bolsonaro, acabou", ele diz. "Você está recebendo mensagem no celular. Todo mundo, todo brasileiro está recebendo mensagem. ... seus filhos mandaram para você. Você não é presidente mais. Precisa desistir. Você está espalhando o vírus e vai matar os brasileiros!"

O presidente disse que não estava entendendo o que o homem falava, mas o haitiano insistiu. "Você está entendendo. Eu estou falando brasileiro".

Os apoiadores ensaiaram uma vaia ao homem, mas logo pararam. Bolsonaro ficou mais alguns instantes no local, não ouviu até o fim a reza de um fã que estava no grupo e foi embora.

O haitiano criticou a postura de Bolsonaro, que participou das manifestações que apoiavam o seu governo em Brasília, neste último domingo (15), apesar da recomendação das autoridades de saúde para evitar aglomerações por causa da disseminação do coronavírus.

Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores na frente do palácio do planalto, ao final da manifestação em favor do seu governo feita na manhã deste último domingo (15)
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores na frente do palácio do planalto, ao final da manifestação em favor do seu governo feita na manhã deste último domingo (15) - Pedro Ladeira/Folhapress

BOLSONARO E AS MANIFESTAÇÕES

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ignorou orientações dadas por ele mesmo na semana passada.

Incentivou os atos desde as primeiras horas do domingo em suas redes sociais —foram 38 postagens sobre o tema até as 18h30. Sem máscara, participou das manifestações em Brasília, tocando simpatizantes e manuseando o celular de alguns apoiadores para fazer selfies. "Isso não tem preço", disse, durante transmissão ao vivo em suas redes sociais.

Neste domingo, ocorreram manifestações em diferentes pontos do país com gritos de guerra e faixas em defesa do governo federal e com uma série de ataques ao Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada no final da manhã e, de carro, percorreu diferentes pontos de Brasília até entrar no Palácio do Planalto, de onde, do alto da rampa e sob os gritos de 'mito', acenou aos manifestantes.

Desceu a rampa em seguida e passou a esticar o braço para tocar nos manifestantes, separados por uma grade. Bolsonaro permaneceu por cerca de uma hora interagindo com apoiadores.

Havia no local várias pessoas idosas, consideradas grupo de risco da nova doença e com taxa de mortalidade maior. Na semana passada, quando pediu que seus seguidores não comparecessem às manifestações por causa do coronavírus, Bolsonaro citou o risco de contágio em ambientes com muitas pessoas.

Em resposta à participação de Jair Bolsonaro (sem partido) em ato favorável ao seu governo, o PDT (Partido Democrático Trabalhista) entrou na Justiça com pedido de medida cautelar de urgência contra o presidente da República.

A ação civil pública, protocolada nesta segunda-feira (16) na Seção Judiciária do Distrito Federal, acusa Bolsonaro de colocar a saúde dos cidadãos em risco ao desrespeitar recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para combate contra o novo coronavírus.

O partido pediu que Bolsonaro seja obrigado a entrar em quarentena e fique proibido de manter contato, incitar ou organizar manifestações populares até a volta da normalidade das questões de saúde pública.

“[O presidente] tem dever de zelar pela saúde pública, pela redução dos danos da pandemia que já apresenta quadro de epidemia no Brasil. Não se trata do cuidado com a sua saúde individual, mas com a responsabilidade compartilhada de estar inserido em uma comunidade”, segundo trecho do documento.

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