Surgido em meados dos anos 1920, o samba batucado do Estácio formatou o gênero valendo-se da enorme difusão e integração nacional que o rádio passou a possibilitar na década seguinte. Com melodias de notas longas, de saltos súbitos para o agudo, de pulsação rítmica mais ampla e sincopada que o samba de roda da Bahia, era uma mistura fina, com elementos musicais de origens africanas e europeias.
Biógrafo de Noel Rosa e Orestes Barbosa, Carlos Didier acaba de lançar o livro "Negra Semente, Fina Flor da Malandragem: O Samba Batucado do Estácio de Sá". Nele conta-se que a novidade nasceu pela fusão com canções de serenata e marchas de rancho e pela penetração dos pontos de macumba entoados ao som de palmas e atabaques. Uma espécie de irmão mais novo das polquinhas e maxixes, dos tanguinhos e lundus, mas que, à diferença deles, permaneceu e deu filhotes.
Seus criadores se reuniam em dois cafés – o Apollo e o do Compadre – e adotavam um modelo de vida fronteiriço. Um pé no trabalho, outro na malandragem. Ismael Silva aplicava o golpe da chapinha, mas deu duro como faz-tudo num escritório de advocacia; Alcebiades Barcellos, o Bide, autor do seminal "A Malandragem", defendia-se como sapateiro; Nilton Bastos, parceiro de Ismael no clássico "Se Você Jurar", batia um bolão nos times de futebol amador.
Perigoso mesmo era Sylvio Fernandes, o Brancura, de reluzente pele preta. Explorador de mulheres (na gíria, chamadas de "minas") na zona do Mangue e colecionador de façanhas, Brancura só pôde ouvir a gravação de "Samba de Verdade", seu grande sucesso de 1928, com perto de 20 mil discos vendidos, depois de sair da colônia penal da Ilha Grande.
O livro engrandece a trajetória de Heitor dos Prazeres ao revelar que é dele o primeiro samba batucado a chegar ao disco, "Ora Vejam Só", em 1926, dois anos antes de Francisco Alves gravar "Me Faz Carinhos", de Ismael Silva.
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