Se tem uma lição que a pandemia de Covid-19 está aplicando com maestria e sem piedade é a de escancarar as desigualdades e mazelas sociais e econômicas que caracterizam a sociedade brasileira.
Para além de todos os graves e evidentes problemas diretamente relacionados à gestão da questão sanitária, estamos enfrentando também os efeitos danosos da exclusão digital.
Num tempo em que tecnologias de informação e comunicação, as chamadas TIC, assumiram protagonismo no cotidiano das populações do planeta, ser um excluído digital pode significar a permanência na condição de invisível social, longe do alcance da ajuda oficial e perto da fome.
Na semana passada, reportagem da Folha deixou isso bem claro ao noticiar um estudo da Fundação Getúlio Vargas. O levantamento apontou que famílias pobres, das classes D e E, ficaram sem receber o auxílio emergencial por questões como falta de acesso à internet ou limitações de conexão.
Considerando os dados da pesquisa TIC Domicílios, não chega a ser uma surpresa. O levantamento aponta que 20 milhões de moradias no Brasil não possuem internet. Além disso, um entre quatro brasileiros não usa a internet, o que representa um universo aproximado de 50 milhões de não usuários da rede mundial de computadores. É muita gente e muita casa desconectada.
Mas há ainda outro problema. Não basta ter acesso à internet, é preciso saber usar. E a exclusão digital alcança também pessoas que, apesar do acesso, podem ser consideradas analfabetas digitais. É gente que não tem ideia de como baixar um aplicativo ou fazer uma pesquisa, por exemplo.
Num cenário em que as tecnologias digitais se tornaram essenciais para a manutenção da saúde e a preservação da vida, num país continental em que a vacinação contra a Covid ocorre a conta-gotas, é passada a hora de olhar ao menos de soslaio para a população de baixa renda e viabilizar com urgência programas que democratizem o acesso à internet.
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