Ana Paula Vescovi

Economista-chefe do Santander Brasil

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Ana Paula Vescovi
Descrição de chapéu Banco Central sustentabilidade

O Brasil bem na foto

Preocupação para investidores globais e locais escalou para a economia internacional, especialmente Estados Unidos e China

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O Brasil está melhor na foto e deixou de ser o foco das preocupações dos investidores —agora mais atentos às incertezas externas. Esse foi o sentimento que capturamos em nossa 24ª Conferência no Brasil, realizada em 22 e 23 de agosto. Foram diversos painéis com gestores públicos e privados e analistas de referência. Participaram mais de 650 investidores institucionais, de fundos locais e internacionais, e mais de cem empresas se fizeram representar para reuniões bilaterais, além de centenas de clientes private.

Tão importante como promover as rodas de conversas e levar informações relevantes aos investidores foi capturar o sentimento destes sobre os principais temas que tendem a movimentar os mercados a curto e médio prazo.

A ilustração do Amarildo, publicada na Folha de São Paulo no dia 03 de abril de 2022, mostra quatro cofrinhos de poupança em forma de porquinho cinzas, com várias moedas douradas caindo no buraco aberto na parte superior deles. Cada porquinho tem uma palavra sobre infraestrutura escrita na lateral: Da esquerda para a direita as palavras são: Energia, Saneamento, Telecomunicações e Transporte. Os quatro porquinhos estão sobre um piso preto e na parede ao fundo temos um retângulo quadriculado em linhas cinzas.
@amarildocharges

Tanto nas conversas quanto em um amplo levantamento realizado entre os participantes, captamos sentimento predominantemente positivo em relação ao Brasil. Em resumo, a percepção tornou-se mais construtiva à medida que o ambiente político se acalmou. Daí a intenção de ampliar investimentos em renda variável neste segundo semestre, manifestada pela maioria (65%) dos participantes.

O governo trouxe algum foco para reformas estruturais, especificamente tributárias e o marco fiscal. O tom geral foi de expectativas de aumento da competitividade e da eficiência, o que incluiu a ação de entes subnacionais com programas de privatizações e investimentos em infraestrutura.

Como pontos positivos do cenário para o Brasil foram destacados as contas externas saudáveis, o crescimento do agronegócio e a resiliência das empresas brasileiras mediante as altas taxas de juros. O Brasil está apenas começando o seu ciclo de flexibilização de juros básicos, e isso seria um fator antecedente para favorecimento das ações como classe de ativos e para um reaquecimento do mercado de capitais, com a volta de ofertas públicas de ações, por exemplo.

Remanescem preocupações com a coordenação política e com os rumos do ajuste fiscal. A expectativa de recuperação mais longa da atividade e o alto nível de endividamento das famílias são vistos como riscos potenciais. A maioria das empresas de consumo mencionou um desempenho de vendas ainda desafiador no terceiro trimestre. Além disso, incertezas em relação ao provável aumento dos impostos e a mudança nas regulamentações de empréstimos com cartão de crédito estiveram entre os temas mais discutidos.

A transição energética também foi um tema com bastante realce. Investidores acreditam que o Brasil tem muitas oportunidades, podendo até apoiar a descarbonização de outros países, mas alguns desafios precisarão ser superados.

Dentre as oportunidades para o Brasil na transição energética, destacaram-se: 1) a relevância das energias renováveis na matriz energética; 2) a capacidade de gerar créditos de carbono para atender a demanda global por compensações; 3) o enorme potencial para produzir hidrogênio verde; 4) a capacidade de abastecer o mundo com produtos agrícolas produzidos de forma sustentável; 5) as grandes reservas de minerais essenciais para a transição, como níquel, cobalto e lítio; e 6) o potencial de produção de biocombustíveis, para utilização na geração de energia e combustível de aviação sustentável (SAF).

Do lado negativo, o Brasil precisa enfrentar e monitorar o desmatamento ilegal. O país também está atrasado na publicação de regulamentos relativos ao mercado interno de carbono e à produção de hidrogênio verde em comparação com outros mercados emergentes.

Foi interessante ouvir economistas afirmarem que ainda é difícil prever o impacto de fenômenos meteorológicos extremos e das alterações climáticas nas economias locais e globais, especialmente sobre o crescimento. No entanto, a visão deles é que o Brasil desempenhará um papel importante na transição energética global, sendo capaz de exportar petróleo de baixo carbono, energia limpa e produtos agrícolas, o que poderia permitir um aumento no PIB potencial do país.

O cenário global é, atualmente, a principal preocupação. Em especial, são desafiadoras as perspectivas macroeconômicas da China e as elevadas taxas de juro dos EUA, o que tornou alguns estrangeiros mais cautelosos do que os locais em relação ao rebate desses riscos sobre os países emergentes —situação oposta à observada apenas três meses atrás.

A desaceleração da economia chinesa e a falta de visibilidade sobre potenciais estímulos do governo foram preocupações que poderiam repercutir negativamente por aqui, uma vez que aquele país representa mais de 20% das nossas exportações. No entanto, os investidores reconheceram que o Brasil desenvolveu uma economia interna mais forte e, portanto, deverá ser menos impactado pela eventual desaceleração da maior economia asiática.

Além disso, falou-se do aumento das conversas sobre fundos internacionais que lançam fundos emergentes ex-China, ou limitam a exposição à China, o que poderia "proteger" a América Latina de qualquer fluxo de notícias negativas em relação à desaceleração econômica ou eventuais problemas naquele país.

Muitos investidores acreditam que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) reduzirá as taxas de juros apenas no segundo semestre de 2024, o que trouxe a discussão sobre o desempenho do real, diante de um diferencial mais baixo de taxas de juros entre o Brasil e os EUA.

Os investidores com quem conversamos parecem confiantes com a sustentação dos fundamentos da política monetária, pois não veem o real se depreciando fortemente à frente. Contudo, eles têm em mente que 7 dos 9 diretores do Banco Central mudarão até o final de dezembro de 2024, e cortar juros por motivos errados pode trazer desempenho desfavorável para o real, com mais pressões inflacionárias à frente.

Há motivos de sobra, portanto, para mantermos os radares ligados para a economia global, mas também para observar se o Brasil continuará a trilhar o caminho para manter elevada a confiança de seus investidores.

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