André Singer

Professor de ciência política da USP, ex-secretário de Imprensa da Presidência (2003-2007). É autor de “O Lulismo em Crise”.

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André Singer
Descrição de chapéu Eleições 2018

Epopeia democrática

Vitória de Bolsonaro neste domingo (7) poderia representar um tiro nas liberdades civis

A elevação das intenções de voto em Jair Bolsonaro (PSL) nesta semana criou um compreensível sobressalto nos círculos democráticos do país. Uma vitória sua no primeiro turno neste domingo (7) poderia representar um tiro nas liberdades civis.

Tendo passado de 28% para 35%, segundo o Datafolha, o capitão reformado ganhou chances de tornar-se presidente já  —embora não pareça, no momento em que escrevo, o mais plausível. O extremista de direita teria que obter, em dois dias, uma vez e meia o que conquistou em uma semana.

Da mesma maneira que as manifestações do #elenão, de sábado passado (29), podem ter ocasionado uma reação conservadora que explica, em parte, os ganhos atuais de sua candidatura, agora está em curso uma corrente voltada para lhe tirar apoios, reforçar outras postulações e desestimular a opção pelo branco e nulo. 

Quanto maior o número de votos válidos, menor a chance de a parada se resolver de imediato. Apenas a segunda volta deverá revelar de que lado está a maioria absoluta dos eleitores (excluídas abstenções, brancos e nulos).

Confirmado o prognóstico acima, podem-se prever três semanas de intensa divisão social. 

A recente subida de Bolsonaro colocou-o em situação de virtual empate com Fernando Haddad (PT), o seu oponente provável, quando a pergunta se refere à escolha final. Lulismo e antilulismo, protagonistas dos grandes embates desde junho de 2013, vão se defrontar em situação de equilíbrio.

O vaivém das sondagens de opinião nos últimos dias mostra que, apesar dos prognósticos em contrário, a democracia brasileira continua viva. 

Machucada por atos arbitrários, como o do juiz Sergio Moro ao novamente divulgar excertos de uma delação politicamente explosiva às vésperas de um pleito, como já havia feito em 2014, mas ainda respirando. 

No final dos anos 1980, quando o Brasil se preparava para a primeira eleição presidencial direta em quase três décadas, circulou por aqui um artigo preciso do cientista político Adam Przeworski. Nele, o polonês radicado nos EUA afirmava que a mola propulsora da democracia era a incerteza. Se fosse possível prever com segurança os resultados eleitorais, o sistema não funcionaria.

O problema é que, desta feita, o que está em questão não é apenas a próxima Presidência, mas a própria continuidade da democracia. 

As incessantes denúncias de corrupção da Lava Jato, o fracasso do plano econômico do governo Temer e um ambiente internacional de corte fascista deram musculatura a propostas liberticidas, que chegam fortes à etapa conclusiva do processo. 

Salvar o Estado democrático de Direito vai transformar o segundo turno numa verdadeira epopeia nacional.

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