Antonio José Pereira

Engenheiro civil e doutorando pela FGV, é superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP desde 2014.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Antonio José Pereira

Não somos mais os mesmos, e que bom!

A pandemia nos exigiu adaptação, colaboração e inovação, que são urgentes na saúde

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em 2021, a Deloitte, parceira do HCFMUSP em projetos de inovação, lançou a pesquisa Global Health Care Outlook 2021, em que apontou seis questões urgentes a serem trabalhadas pelo setor da Saúde. Como o documento pontuou, a pandemia já reforçava duas características: 1) a pressão sobre profissionais, estrutura e cadeia de abastecimento da saúde, e 2) a exigência por mudanças rápidas dos sistemas público e privado, adaptando-se a novas necessidades e inovando com agilidade.

Assim, as questões urgentes foram: novos hábitos dos consumidores, formas ágeis de trabalhar, transformação digital, colaborações entre os ecossistemas, inovação do modelo de cuidado e mudanças socioeconômicas. Para a empresa, governos, prestadores de cuidados, investidores e outros são agora mais desafiados.

Nesta virada de ano, de balanços e retrospectivas, penso no que vivemos no HCFMUSP com o Sars-CoV-2. E, ainda que seja cenário de dor, vejo que fizemos mais do que o possível e estamos no caminho certo.
De abril a setembro de 2020, transformamos o hospital no maior Centro de Referência para Tratamento da Covid-19 no Brasil. Foi algo sem precedentes nos 76 anos do HC, e com um dos melhores desfechos da América Latina e de muitos países europeus. Nosso Comitê de Crise desenvolveu estratégias, e tivemos o envolvimento de todos os Institutos do Complexo HC e do Hospital Universitário da USP.

Profissionais da saúde do Hospital das Clínicas recebem flores em agradecimento por seu trabalho contra a Covid-19 - Karime Xavier - 3.jul.2020/Folhapress

Em 30 de janeiro de 2020 —um mês antes do primeiro caso de Covid em São Paulo—, nossa Diretoria Clínica mobilizou o Comitê de Crise para criar um Plano Operacional de Enfrentamento da doença. Identificamos que o melhor seria isolar por completo o nosso prédio do Instituto Central (ICHC), para que se voltasse só a pacientes do coronavírus. O trabalho não daria certo sem os mais de 20 mil colaboradores do HC, e seus 1.700 residentes, residentes multiprofissionais e alunos. Os 11 andares do prédio foram remodelados, com adaptação de enfermarias e centros cirúrgicos em UTIs.

Fizemos inovação no modelo de cuidado. Começamos com 94 leitos para tratamento intensivo, e isso mais do que dobrou --foram criados mais 300 leitos de UTI e 500 de enfermaria. Vemos aqui um dos pontos levantados pela Deloitte: a forma ágil de trabalhar. Transformamos todo o nosso ambiente com planejamento e organização e com muita agilidade.

Claro, tivemos doações, imprescindíveis: com essa ajuda, adquirimos mais de 500 equipamentos --dentre eles, 150 monitores multiparamétricos e 68 ventiladores pulmonares. E colocamos robôs para circular em enfermarias, UTIs e ambulatórios, reduzindo a chance de contágio dos profissionais. Robôs interagiram com pacientes que chegavam para consultas. Usamos tablets para manter a comunicação entre paciente internado e família. E vimos consumidores adotando novos hábitos.

O Núcleo de Tecnologia da Informação (Neti) lançou o "HC em Casa", plataforma que permitiu reagendar consultas e procedimentos ambulatoriais, evitando a ida até o complexo. O usuário podia ainda acessar o Portal do Paciente para saber de seu tratamento.

Com a enfermagem do Sírio-Libanês, o ICHC capacitou 1.020 colaboradores para desenvolver competências e habilidades de enfermagem para pacientes de alta complexidade. Internamente, a rede de parcerias mostrou forma ágil de trabalhar, transformação digital e colaboração entre ecossistemas. Exemplo: anestesistas treinaram equipes médicas em abordagem de via aérea.

Assim, inovamos no cuidado. Tivemos 1.664 médicos residentes convocados na pandemia; mais de 700 jovens médicos atuaram na linha de frente e 900 garantiram assistência a pacientes transferidos do ICHC para os outros institutos.

Os resultados revelam a força de o HCFMUSP atuar: a) o ICHC internou cerca de 9.000 pacientes graves com Covid e obteve alto índice de sucesso; b) No período mais crítico, a ocupação dos 300 leitos de UTI superou 90%; c) foram 106 partos em pacientes com Covid-19, quatro deles na UTI.

A parceria com os Institutos do Complexo HC e Hospital Universitário garantiu, em média, 100 internações e 800 cirurgias inadiáveis por mês, a pacientes com outras doenças. A Unidade de Emergência e Urgência Referenciada, no InCor, atendeu mais de 2.000 pacientes graves; no Hospital Universitário, foram mais de 7.000 atendimentos. Ainda fizemos 100 transplantes, o Prédio dos Ambulatórios promoveu 132 mil consultas ambulatoriais e o Hospital-Dia atendeu a mais 1.600 pacientes.

Então, sim, o HCFMUSP atua de forma pioneira e diferenciada. E o que mais me deixa orgulhoso é que as perspectivas apontadas para 2021 já eram por nós vivenciadas em 2020! Por isso o HCFMUSP é considerado o maior complexo de saúde da América Latina!

Fica a nossa atenção às mudanças socioeconômicas -- o Brasil tem muito a se desenvolver. Que 2022, com eleições, seja melhor, para que a saúde alcance, cada vez mais, toda a população de forma igualitária.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.