Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Tudo é importante

A geração de emprego e renda não pode ser sobrestada pelas consequências da CPI

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A CPI instalada pelo Senado na semana passada deve passar a limpo os meses de desgoverno que contribuíram para o descontrole da pandemia no Brasil. Como seria de esperar depois de um choque imprevisível dessa magnitude, houve equívocos inevitáveis, e com eles só nos resta aprender. No entanto, é sobre os evitáveis, as omissões e os desvios de conduta que os esforços devem se concentrar para prestar contas à sociedade.

Para citar apenas alguns, é preciso esclarecer o atraso na decisão de compra de imunizantes e a falta dos necessários protocolos unificados de atendimento aos pacientes, cruciais para o tratamento adequado, principalmente nos municípios com menor capacidade estatal. Para outros temas importantes, vale conferir a minuciosa lista de 23 crimes potenciais cuidadosamente preparada pela Casa Civil, em mais uma inovação de gestão na pasta —essa sim, sua maior contribuição para o Brasil.

É preciso, entretanto, que o circo político que naturalmente envolve os trabalhos de uma CPI não leve ao descaso com a realidade econômica e social brasileira. O auxílio emergencial e o programa de corte de jornadas e salários com compensação financeira pelo governo (BEm), além da ampliação do acesso ao crédito pelas pequenas empresas (Pronampe), foram decisivos para o bom desempenho do Brasil tanto frente ao esperado inicialmente, tanto em relação a outras economias. Apenas no BEm foram mais de 20 milhões de acordos celebrados em 2020.

As disputas da política com "p" minúsculo em torno da eleição das presidências das Casas e que culminaram no espetáculo vergonhoso de apropriação de quinhões do Orçamento, com o estímulo do Palácio do Planalto, atrasaram a renovação desses programas, mas a sua retomada deve trazer novo alívio para o setor produtivo.

A atividade e o emprego formal têm mostrado certa resiliência mesmo com o recrudescimento da pandemia. Em que pesem as discrepâncias dos números da Pnad e do Caged, cada um com seus vieses neste momento, ambos trazem, em maior ou menor grau, uma foto de recuperação do mercado de trabalho formal. A elevação expressiva da poupança financeira das famílias, como documentado em excelente trabalho do Cemec (Centro de Estudos de Mercado de Capitais), pode ajudar a sustentar a retomada, mas o caminho será longo.

A busca pela geração de emprego e renda, sobretudo para os trabalhadores presos na informalidade, os de menor escolaridade e que mais sofreram com a pandemia, não pode ser sobrestada pelas consequências da CPI. Junto com a retomada da reforma do Estado, não podem ficar à margem das circunstâncias de curto prazo, por mais meritórias que sejam.

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