Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Descrição de chapéu juros inflação

A surpreendente inflação no mundo pós-Covid

Estamos perto do fim da maior surpresa inflacionária nos EUA nas últimas décadas?

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Muita atenção tem sido direcionada à inflação na Europa e nos Estados Unidos. Por quê?

Na figura abaixo, a linha cheia mostra a inflação anual nos Estados Unidos a cada trimestre, desde 2020; as linhas pontilhadas mostram as previsões da inflação para os trimestres seguintes.

A linha cheia mostra que a inflação estava em torno de 2% ao ano até o início de 2021, quando começa a crescer e chega a 8,5% ao ano em meados de 2022. Hoje, a taxa está em queda e abaixo de 6%.

As linhas pontilhadas mostram que as previsões foram otimistas demais. Entre o início de 2021 e meados de 2022, as linhas pontilhadas estão sempre abaixo da linha cheia.

Por exemplo, ao final do primeiro trimestre de 2021, a inflação estava em torno de 2% e esperava-se um aumento fugaz para cerca de 3%. Na realidade, a inflação no trimestre seguinte já estava em 5% e continuou subindo por mais de um ano.

As linhas pontilhadas partindo do segundo trimestre de 2021 em diante são sempre decrescentes. A inflação subia, mas analistas esperavam que dali para a frente tudo seria diferente: a inflação cairia a partir do trimestre seguinte. Foi assim por mais de um ano.

Esse foi o maior dos enganos na previsão da inflação nos Estados Unidos nas últimas décadas. Era difícil prever o caminho da macroeconomia em um cenário tão atípico e cheio de incertezas como o de 2021.

Uma implicação é que preços de mercado (como taxas de juros) incorporavam expectativas de inflação muito mais baixas. Quando veio a inflação alta, a taxa de juros nos Estados Unidos subiu muito mais do que se esperava. Por isso, quem comprou títulos prefixados antes desse aumento nos juros, como o Silicon Valley Bank, perdeu bastante dinheiro.

Depois de muito otimismo excessivo, a inflação do último trimestre de 2022 finalmente bateu com as previsões. E assim foi também a inflação do primeiro trimestre desse ano.

Agora, inflação em queda e problema resolvido?

Quem segue os números acredita que a inflação continuará caindo nos próximos trimestres. No cenário considerado mais provável pelos analistas, ao final do ano que vem a inflação já estará de volta aos 2%.

Entretanto, em um outro cenário, a inflação se estabiliza num patamar mais alto —digamos, em torno de 4%.

Cada um desses cenários tem implicações diferentes para a nossa economia.

No primeiro cenário, a taxa de juros logo cai; no segundo, o banco central norte-americano precisará levantar os juros para trazer a inflação de volta para o nível desejado.

Aumentos nos juros em países desenvolvidos reduzem a demanda por bens e serviços por lá, o que os ajuda no combate à inflação, mas se refletem em menor demanda por nossas exportações.

Além disso, juros mais altos nos Estados Unidos tornam menos atrativo o investimento em outros países. Isso leva a juros mais altos para empresas e governos em países emergentes e, portanto, menos crédito e investimento direto aqui. Estima-se que 1% a mais na taxa real de juros nos Estados Unidos leve a um aumento próximo de 2% nos juros de países emergentes, com risco não desprezível de calote.

Com juros menores nos Estados Unidos, o investimento no Brasil fica mais atrativo e o real tende a se valorizar. Essa lógica explica boa parte da mudança no câmbio na semana passada. Um real mais valorizado reduz o preço dos bens importados e alivia a pressão na inflação.

Por tudo isso, notícias sobre inflação nos Estados Unidos (e na Europa) vão continuar afetando as taxas de juros e câmbio por aqui.

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