Bernardo Guimarães

Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP

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Simone Tebet e a qualidade dos gastos públicos

Principal desafio é melhorar políticas públicas e sua avaliação

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Nesta segunda-feira (26), a ministra Simone Tebet falou sobre revisões de gastos públicos que podem evitar desperdícios e economizar bilhões de reais. Esses são casos de fraudes e erros nos processos que geram pagamentos indevidos.

A importância e os benefícios dessas revisões são claros. Todo esforço nessa direção é muito bem-vindo.

Porém, na entrevista, a ministra não falou de uma outra atribuição importante do Ministério do Planejamento: avaliar e monitorar políticas públicas com o intuito de melhorá-las.

Esse são casos de políticas que não estão atingindo seus objetivos ou custam caro demais pelo que geram. O problema aqui não são fraudes. São erros ou imperfeições no desenho ou na implementação.

O potencial de ganhos nessa área parece enorme.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet - Marlene Bergamo/Folhapress

Qualquer pequena reforma na casa, rotina para emagrecer ou projeto para educar os filhos acaba saindo diferente do que foi inicialmente planejado. Algumas coisas funcionam, outras não.

O mesmo vai ocorrer com qualquer política pública.

Por exemplo, é preciso evitar que se pesque durante a época em que os peixes se reproduzem. Podemos proibir a pesca nesses meses, mas aí o pescador que vive disso fica sem renda. O que fazer? Uma solução é instituir o seguro defeso e transferir recursos para os pescadores nesse período.

Esse programa é muito caro, custa bilhões de reais por ano. Podemos acabar com ele, mas o problema inicial ainda existiria. Qual seria a maneira mais eficiente de atingir o objetivo?

Há inúmeros exemplos como esses. Os programas têm um objetivo legítimo, mas os benefícios não parecem compensar os custos. Há potencial para melhorar a maneira de atingir o objetivo inicial.

O que fazemos a esse respeito?

Em abril de 2016, foi criado o CMAP (Comitê de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas). Em 2019, a atuação desse comitê foi expandida e ele passou a se chamar Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas. Esse conselho avalia gastos públicos e subsídios.

Funciona?

Em agosto do ano passado, na abertura do 1º Seminário de Avaliação e Melhoria do Gasto Público, a ministra Simone Tebet perguntou: "Temos [ao longo dos anos] algumas políticas que já foram avaliadas. A pergunta é: por que, das 60 políticas públicas –que totalizaram mais de R$ 1 trilhão em recursos públicos– que foram avaliadas nos últimos anos pelo CMAP, nenhuma foi redesenhada, cancelada ou anulada para dar lugar a outra mais eficiente?".

Avaliar não é suficiente. É preciso transformar avaliações em melhorias nas políticas públicas. Ao que parece, no momento o Ministério do Planejamento tem buscado envolver os gestores de políticas desde a fase inicial das avaliações para melhorar esse processo.

O caminho para boas políticas é longo. Precisamos de mecanismos de avaliação; flexibilidade institucional para mudar; incentivos para gestores buscar e implementar melhorias; maneiras de driblar resistências políticas. Nada disso é tudo, tudo isso é fundamental para que nosso dinheiro seja gasto de maneira razoável.

Idealmente, testaríamos a efetividade de uma política com um programa piloto, menor. Usaríamos técnicas estatísticas para avaliar políticas públicas como testamos a efetividade de remédios. Ainda estamos muito longe disso.

A ministra Tebet sempre fala sobre a qualidade dos gastos públicos. Mudanças pontuais ganham manchetes, mas seu principal desafio é melhorar o processo de avaliar e melhorar políticas públicas.

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