Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune

Alain Delon foi o crush, quase noivo imaginário, de toda uma geração

Achei pelo menos 108 Alains Delons no Facebook espalhados de Roraima ao Rio Grande do Sul

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Na casa de Neidinha, Alain Delon era quase noivo imaginário. Recortado de uma revista, foi viver num porta-retrato enquanto ela o namorava ouvindo "Balada do Louco", dos Mutantes. "Se eles são bonitos..."

Quando Zé Luís entrou em sua vida, pedindo sua mão em casamento, houve quem previsse ciumeira. Nossa vizinha, porém, juntou a foto dos dois, oficializando o trisal na mesinha de cabeceira. "Vai dizer que não se parecem?" Não, Neidinha. Naquele tempo, a beleza masculina seguia padrão rígido, tabulado em três níveis: bonito, muito bonito e Alain Delon.

Lembrei-me dessa história ao saber que o octogenário ator francês pediu para morrer. Segundo o próprio, a solução mais lógica após AVC e cansaço crônico diante da velhice.

Na ilustração de Marcelo Martinez: sobre uma bancada de pia, apoiada em uma parede de azulejos de banheiro, temos uma caneca – contendo um tubo de pasta de dentes e uma única escova dental. Na caneca, está estampada uma foto do ator Alain Delon.
Ilustração de Marcelo Martinez para coluna de Bia Braune de 28 de março de 2022 - Marcelo Martinez


É verdade que monsieur Delon não ocupa o noticiário como antigamente. Em vez de revê-lo em clássicos como "Rocco e Seus Irmãos" e no auge de affairs com divas do cinema (entre elas, nossa Norma Bengell), lemos sobre o apoio à direita francesa e a recente invertida que levou do movimento MeToo.

Ainda assim, tal saída de cena me fez refletir sobre o impacto de galãs desse porte. Foi então que, por mera curiosidade, achei pelo menos 108 Alains Delons no Facebook —espalhados de Roraima ao Rio Grande do Sul, passando por municípios como Catolé do Rocha. Quinze só em Goiânia. Vinte "da Silva". Sem contar com o artilheiro Allan Dellon, que jogou no Vitória da Bahia.

Agora, antes que alguém critique a paixonite e a motivação alheias: que atire o primeiro caderno Tilibra com os gatos do vôlei da seleção de 1992 quem nunca teve seu próprio ídolo teen. Quantos deles seguem até hoje colados em antigas agendas de adolescente?


Cada geração com seu crush. Pelo rádio e em filmes da Atlântida, vovó suspirava pelos irmãos Dick e Cyll Farney. Já mamãe fumava escondido Chanceller, "o fino que satisfaz" que tinha em Pedrinho Aguinaga o homem mais bonito do Brasil.

A partir daí, é 1900 e álbum de figurinhas do Menudo. Tem Tom Cruise em "Top Gun", Rodrigo Santoro na capa da revista Carícia e, bem, se me deixarem aqui, a gente vai do príncipe William, ainda cabeludo, rumo ao infinito. Sabendo que, com tempo e maturidade, todo platonismo acaba dando lugar a amores mais concretos e cotidianos.

Com eles não dividiremos uma porta que boia entre destroços do Titanic (cabia sim, Leonardo DiCaprio, sempre soubemos), mas a cama, as contas e a mesma caneca para escovas de dente. Sem esquecer, jamais, paixões tão formativas como o Alain Delon de Neidinha, agora avó de três e viúva de um só.

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