Bia Braune

Jornalista e roteirista, é autora do livro "Almanaque da TV". Escreve para a Rede Globo.

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Bia Braune
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A ‘Sessão da Tarde’ perdida

Uma galerinha aprontando altas confusões e o que mais mesmo?

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Quando certa manhã acordei de TikToks intranquilos, notei que Jerry Lewis havia desaparecido. Não por causa de sua morte, em 2017, mas porque seus clássicos deixaram de passar na "Sessão da Tarde".

Temendo pela integridade do meu HD de referências, vaguei por grupos de WhatsApp. "‘Professor Aloprado’? Conheço, claro. É aquele filme velho com o Eddie Murphy, né?"

Nos 50 anos dessa faixa tão icônica da TV, onde foram parar as reprises que formaram cinéfilos? Ou, num recorte mais corriqueiro, adultos funcionais alimentados com Mirabel e chocolate Wonka, enquanto suas mães saíam para trabalhar.

Pré-cabo e offline, assistíamos a tudo o que havia na programação. De musicais com Gene Kelly a aventuras da conquista espacial, 20 anos depois de o homem ter pisado na Lua.

na colagem digital de Marcelo Martinez, elementos que fazem referência a filmes clássicos da Sessão da Tarde, como comédias de Jerry Lewis e Curtindo a vida adoidado
Ilustração de Marcelo Martinez para coluna de Bia Braune na Folha

"Eu não era nascido não, tia." Nem nós! Ninguém aqui tem idade para ter visto Pedro 1º às margens do Ipiranga e nem por isso deixamos de saber o que ele fez —e que, antigamente, exibiam "Independência ou Morte" com Tarcísio Meira todo Sete de Setembro. O nome disso é cultura inútil.

Eram tempos de "apertem os cintos, a classificação etária sumiu". Graças àquela babá eletrônica, tivemos happy hour com Monsieur Cognac, o poodle alcoólatra. Vimos secretárias chapadas de maconha enquanto eliminavam seu chefe. E Brooke Shields descobrindo o amor em trajes sumários demais até para uma lagoa azul.

Das incríveis peripécias do ônibus atômico, não restou pálido isótopo. A carrocinha do zeitgeist levou Lassie, Benji, o gatinho Chatran e Digby, o maior cão do mundo. "Uma galerinha vivendo altas confusões... E o que mesmo?" Apenas amnésia e descaso, nesse feitiço de Áquila geracional.

Deu a louca no mundo, mas ainda somos meio Terry-Thomas, meio Sissi, a imperatriz. Algo entre Bud Spencer e Terence Hill. De repente 30, 40 e lá vai pedrada. Tendendo a Lindsay Lohan duplicada e Patrick Swayze gingando numa calça dois números menor.

Chega desse autoritarismo pop que despreza o passado alheio. Lute como um Ferris Bueller! Afinal, primeiro levaram Jerry Lewis, pois ninguém se achava errado para cachorro. Em seguida, sumiram com Macaulay Culkin, porque não foi o primeiro amor alérgico a abelhas de ninguém. Mas, quando o 5G cair e deletarem Luccas Neto, aí será tarde.

Precisaremos agir. E arranjar de novo um DVD player.

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