Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Descrição de chapéu

Silêncio de Temer torna coronel figura ainda mais nebulosa

Personagens se calam e pagamento em dinheiro vivo para reforma fica sem explicação

O presidente da República, Michel Temer, em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente da República, Michel Temer, em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Passaram-se 316 dias desde que a Polícia Federal chamou pela primeira fez o coronel João Baptista Lima Filho para prestar depoimento em um inquérito que investiga Michel Temer. Em cada um desses 316 dias, o amigo do presidente se recusou a explicar as acusações de que teria recebido R$ 1 milhão da JBS e bancado despesas pessoais da família da Temer.

O voto de silêncio imposto sobre assuntos que envolvem o coronel torna ainda mais nebulosas suas atividades como empresário e como faz-tudo do presidente. Desta vez, ninguém quis justificar um relato aparentemente simples: o de que a mulher de Lima fez um pagamento em dinheiro vivo para a reforma da casa de uma das filhas de Temer.

O coronel permanece calado, amparado por atestados médicos que recomendam que ele evite “estresse emocional e esforços físicos”. A PF quer ouvi-lo sobre a obra no imóvel, entre outros assuntos, mas Lima se recusou a falar até mesmo quando ficou preso por três dias, no fim de março, na Operação Skala.

Maria Rita Fratezi, sua mulher, foi intimada a depor na mesma ocasião, e também preferiu não responder às perguntas dos investigadores.

Já o presidente diz que não deve explicações sobre o tema e que os questionamentos sobre a obra devem ser feitos a sua filha. Mas o advogado de Maristela Temer afirma que só dará informações “caso ela seja chamada para prestar depoimento”.

Nem mesmo o ministro Carlos Marun, zagueiro do gabinete presidencial, conseguiu encontrar uma desculpa esfarrapada. Disse não saber se o relato sobre o pagamento é verdadeiro e repetiu a ladainha de que este é “mais um capítulo dessa novela de perseguição” contra Temer.

Quando o STF quebrou o sigilo bancário do presidente, o Planalto se apressou para avisar que divulgaria os dados, mas depois recuou. Temer gasta o verbo para atacar seus investigadores, mas adota o silêncio como regra de ouro quando é conveniente.

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