Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Para herdar votos, Haddad ainda será o 'representante' de Lula

Candidato cede autonomia e mantém vínculo para absorver votos do ex-presidente

O PT trocou seu registro no TSE, mas Fernando Haddad não saiu de Curitiba como candidato autônomo. Lula unge o afilhado no 12º parágrafo da carta lida à militância do partido, autorizando sua substituição na corrida presidencial. Algumas frases à frente, acrescenta: “ele será o meu representante”.

A ambiguidade remanescente na chapa petista é o trunfo final da sigla para chegar às urnas em outubro numa posição competitiva. A menos de quatro semanas do primeiro turno, Haddad ganha velocidade, mas ainda aparece com 9% nas pesquisas. Para chegar ao segundo turno, precisará cruzar a linha de chegada numa bicicleta com rodinhas.

Um retrato do eleitorado cativo do PT revela por que a figura de Lula será crucial até o último dia de campanha. O ex-presidente tinha 49% das intenções de voto entre eleitores com renda de até dois salários mínimos. Haddad tem 10% —mas, ali, 3 de cada 4 eleitores não sabem que é ele o candidato lulista.

A fidelidade de muitos brasileiros ao ex-presidente faz com que as projeções de transferência de votos nesse segmento e em outros nichos tradicionalmente petistas não sejam tão absurdas quanto parecem.
Apesar da saída de Lula de cena, mantiveram-se altos os índices de eleitores que dizem seguir sua orientação. No Nordeste, 52% dos entrevistados afirmam que votariam “com certeza” em seu indicado.

O PT busca convencer os eleitores de que a vitória desse nome relativamente desconhecido significará o retorno (simbólico ou real) de Lula. “Um dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida minha inocência. Nesse dia, estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo”, afirmou o ex-presidente na carta que formalizou a troca.

Mais do que um padrinho, Lula se apresenta como fiador de Haddad —e este, por sua vez, como um executor de seus projetos. Aparentemente, trata-se de uma vacina contra a má lembrança dos anos de Dilma Rousseff. Na prática, volta a imagem daquele mero “representante”.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.