Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Bruno Boghossian
Descrição de chapéu Eleições 2018

Autoridades analógicas fracassam no faroeste da campanha digital

Financiamento ilegal no WhatsApp mostra despreparo de juízes e procuradores

Candidatos que apostaram todas as fichas na propaganda de TV ficaram pelo caminho este ano. Celulares e redes sociais atropelaram quem confiou só nas estratégias tradicionais para conquistar votos. As autoridades eleitorais também precisarão reconhecer seu fracasso.

Enquanto promotores e juízes se ocupavam em julgar direitos de resposta no rádio e verificar se santinhos tinham o CNPJ certo, a disputa digital corria no estilo faroeste.

Nesta quinta (18), a repórter Patrícia Campos Mello revelou que empresas alinhadas a Jair Bolsonaro pagaram para enviar milhões de mensagens pelo WhatsApp contra o PT. A prática é proibida e pode configurar financiamento ilegal de campanha.

O candidato do PSL só disse que não tem controle sobre aqueles que o apoiam. Uma advogada do partido afirmou que são “atos isolados”, sem autorização da sigla. O caso foi levado à Justiça Eleitoral por PT e PDT.

O despreparo dos órgãos de controle e a dificuldade de rastreamento reforçaram a ilusão de que a internet é terra sem lei. Não houve esforço para conter notícias falsas, grupos clandestinos de propaganda e seu financiamento fraudulento.

Ao assumir o TSE, em fevereiro, Luiz Fux disse em tom grave que a difusão de informações mentirosas era abusiva. Meses depois, declarou que uma eleição pode ser anulada se tiver a influência de fake news.

Era só marketing? Quem segurou um celular nos últimos meses teve acesso a uma enxurrada de mentiras. Não se viu ação concreta para investigar a origem, os pagamentos e os efeitos da desinformação.

No dia do primeiro turno, a atual chefe do TSE, Rosa Weber, afirmou que o tribunal estava “aprendendo a lidar” com o problema e tentando “compreender” o que são fake news. Parecia óbvio —e já era tarde.

O segundo turno está aí, mas juízes e procuradores ainda não sabem lidar com o WhatsApp e outros aplicativos. Campanhas digitais ajudaram muitos candidatos e podem eleger um presidente, mas as autoridades ainda estão presas na era analógica.

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