Advogado de Ricardo Barros trabalhou para chineses da CanSino em negociação com governo alvo da CPI da Covid

Flávio Pansieri participou de reunião com a Anvisa sobre vacina Convidecia; deputado nega impedimento

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Rio de Janeiro

O advogado do líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), atuou como representante legal da vacina chinesa Convidecia no Brasil, participando inclusive de reunião com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Sócio do genro de Barros até março deste ano, o advogado Flávio Pansieri participou de reunião com a Anvisa no último dia 30 de abril. Segundo o site da agência, a pauta da reunião referia-se às “atualizações sobre a desenvolvimento da vacina do IVB [Instituto Vital Brazil] & Belcher & CanSinoBio a ser submetida a uso emergencial para a Anvisa”.

Integrantes da CPI da Covid querem apurar a negociação da Convidecia com o Ministério da Saúde. A empresa Belcher Farmacêutica, com sede em Maringá (PR), atuou como representante no país do laboratório CanSino Biologics no Brasil, responsável pelo imunizante.

Homem careca sorri
O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara, durante cerimônia no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino - 23.fev.2021/Reuters

No último domingo (27), Barros divulgou nota por ter sido citado pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) em depoimento à CPI da Covid como parlamentar que atuou em favor da aquisição de vacinas superfaturadas. Para se defender, o líder do governo apresentou a íntegra da defesa preliminar enviada à Justiça Federal. O documento é assinado por Pansieri.

O advogado também assumiu a defesa de Barros no STF (Supremo Tribunal Federal), após o deputado ter sido delatado por executivos da construtora Galvão Engenharia.

Além de atuar na defesa de Barros, Pansieri acompanhou o líder do governo durante encontro com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto no dia 24 de fevereiro, durante a posse do deputado do centrão João Roma (Republicanos-BA) como ministro da Cidadania.

Pansieri publicou nas redes sociais uma foto com a legenda "Gabinete do presidente do Brasil, com Jair Bolsonaro, Diego Campos e Ricardo Barros".

Na foto, Bolsonaro posa ao lado de Pansieri e Campos, que é casado com uma filha de Barros. Até 15 de março, Campos era sócio de Pansieri.

Flávio Pansieri (centro), advogado de Ricardo Barros, em foto com o presidente Jair Bolsonaro postada em uma rede social
Flávio Pansieri (centro), advogado de Ricardo Barros, com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio no Planalto - Reprodução/flaviopansieri no Instagram

Procurado pela reportagem, Barros disse não haver impedimento no fato de seu advogado ter atuado em favor da vacina. Ele afirmou ainda não ter apresentado Pansieri a Bolsonaro na condição de representante legal do imunizante. "Não há impedimento", disse Barros.

Segundo o deputado, Pansieri esteve no gabinete do presidente da República como delegado do conselho federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Pansieri afirmou à Folha que o escritório nunca representou a vacina Convidecia, "apenas atuou perante a Anvisa no assessorando jurídico regulatório para o registro da Vacina".

"A atuação técnica regulatória no registro da vacina não tem qualquer impedimento legal. Por fim registramos que desde 10/06 não somos mais advogados do regulatório da vacina."

Senadores avaliam que é necessário aprofundar a apuração sobre a negociação da Convidecia para saber se houve participação de Barros, que foi prefeito de Maringá. Um dos sócios da Belcher Farmacêutica é filho de um empresário próximo ao deputado.

Um pedido para uso emergencial da vacina da CanSino no Brasil foi apresentado pela Belcher à Anvisa no dia 19 de maio. Segundo a agência, no entanto, após verificação inicial, houve pedidos de novos documentos, ainda não entregues, o que travou a análise.

Além disso, a agência diz ter recebido no dia 17 de junho um comunicado da empresa CanSino informando que a Belcher e o Instituto Vital Brazil, que também acompanhava o pedido, não possuem mais autorização para representar a CanSino. Com isso, a situação do pedido de uso emergencial deve ser reavaliada.

O líder do governo Bolsonaro na Câmara também entrou na mira da CPI. Ele é alvo de um requerimento de convocação para prestar depoimento à comissão, que está na pauta da sessão desta terça-feira (29).

Caso os senadores decidam mesmo por requerer seu depoimento, o formato deve ser transformado em convite, formato no qual a presença não é obrigatória.

Em entrevista à Folha, o deputado Miranda disse que a corrupção no Ministério da Saúde pode ser “muito maior”. O parlamentar indicou a existência de fraude na compra de testes de Covid, apontou para um indicado de Barros e ainda disse que seu irmão pode apresentar mais detalhes, desde que seja em uma sessão secreta da CPI.

Nesta segunda-feira (28), ao comentar com apoiadores a denúncia de irregularidades na compra da vacina Covaxin, Bolsonaro disse que não tem como saber o que acontece nos ministérios de seu governo.

Em entrevista à Folha publicada horas antes, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o esquema de corrupção do Ministério da Saúde pode ser "muito maior" do que o caso Covaxin, investigado pela CPI da Covid do Senado e pela Procuradoria.

A existência de denúncias de irregularidades em torno da compra da vacina indiana Covaxin foi revelada pela Folha no dia 18, com a divulgação do depoimento sigiloso de Luis Ricardo ao Ministério Público Federal. Desde então, o caso virou prioridade da CPI no Senado.

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