O ataque do Hamas e as ações de Israel são produtos de uma fase aguda no longo processo de desgaste e radicalização dentro de cada território. As populações locais atravessam um momento delicado de declínio da tolerância, rejeição a adversários, aceitação da violência e desconfiança em relação a seus líderes.
A formação do quadro aparece em pesquisas recentes. Em seis anos, o apoio de palestinos à solução de dois Estados caiu de 52% para 28%, segundo o PSR (Palestinian Center for Policy and Survey Research). Em junho, metade dos entrevistados de Gaza e Cisjordânia diziam que o confronto era o melhor caminho para uma Palestina independente, e 77% defendiam a formação de facções armadas.
Esse estado de guerra nas ruas serve como uma espécie de estímulo às decisões tomadas por grupos políticos. Ao longo dos anos, a popularidade do Hamas subiu em épocas de conflito. O grupo, porém, não conseguiu sustentar altos níveis de aprovação por muito tempo. Há alguns meses, só 31% dos palestinos diziam que o Hamas merecia representá-los.
A descrença em métodos pacíficos é abrangente. Um levantamento feito há poucas semanas pelo IDI (Israel Democracy Institute) mostrou que 39% dos israelenses acreditam que o país errou ao assinar os acordos de Oslo, com o compromisso de criação de um Estado palestino. Na direita, base de Binyamin Netanyahu, a rejeição chega a 60%.
As ações do Hamas foram um golpe para o primeiro-ministro. Desde 2021, o otimismo dos israelenses com o futuro da segurança nacional caiu pela metade, chegando a 33%. Uma sondagem feita em junho apontou que o combate ao terrorismo era uma das principais pedras no sapato de Netanyahu: apenas 18% da população tinham uma avaliação positiva do governo nessa área.
O pulso do público interno quase sempre molda providências dos líderes políticos em momentos sensíveis. Os desdobramentos do conflito dependerão, em alguma medida, dos efeitos práticos e da transigência popular com ações radicais, o terrorismo brutal, bombardeios em massa e crimes de guerra.
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