Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

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Milei abusa da antipropaganda em recado a apoiadores e oposição

Como tantos populistas liberais, argentino assume com motosserra na mão direita e cassetete na mão esquerda

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Sob a faixa, Javier Milei manteve um figurino oposicionista. Na posse, ele descreveu a crise argentina como resultado de "cem anos de fracasso" dos rivais e, como se não tivesse recebido a missão de administrar um país, assumiu o bordão de que "não há dinheiro" para nada. "Nenhum governo recebeu uma herança pior."

Milei repete uma fórmula que marcou a onda de choques neoliberais em países da América Latina nas décadas de 1980 e 1990. Essas reformas eram recebidas pela população com mais tolerância quando eram encaradas como remédios contra situações econômicas dramáticas, que corriam risco de agravamento.

O ultrapopulista mergulhou com gosto na calamidade. Disse que a Argentina estava à beira de uma inflação anual de 15.000% (embora o índice esteja próximo de salgados 150%) e afirmou que não há alternativa a um ajuste duro. Avisou, de saída, que o povo verá uma redução na atividade, no emprego e nos salários.

A antipropaganda é um conhecido mecanismo político para amortecer o mal-estar causado por planos de austeridade. O objetivo é convencer o eleitor de que ele está diante de uma curva em J: seria preciso absorver algum prejuízo antes de uma recuperação vertiginosa.

Com um só discurso, Milei enviou mensagens para setores distintos. Primeiro, recrutou seus eleitores mais entusiasmados para uma defesa obstinada das medidas do governo. À classe média e aos mais pobres ele pediu um voto de confiança. Aos opositores e setores organizados da esquerda o presidente exibiu o rigor em forma de ameaça.

Antes de dizer que o governo não recuará, o novo presidente declarou que pretende usar "todos os recursos do Estado para avançar nas mudanças". Sem muita sutileza, sugeriu que tem nas mãos um aparelho de repressão para enfrentar "aqueles que querem usar a violência", em alusão a inevitáveis protestos contra seu pacote. Como tantos políticos com tendências autoritárias, Milei terá uma motosserra na mão direita e um cassetete na mão esquerda.

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