Bruno Gualano

É professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP. Também é autor de 'Bel, a Experimentadora'

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Bruno Gualano
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Exercício é remédio na depressão?

Novas evidências indicam que o exercício é uma ferramenta tão efetiva quanto os medicamentos no tratamento das depressões leve a moderada

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Cerca de 320 milhões de pessoas apresentam depressão no mundo. Duas a cada 10 terão a doença ao longo da vida. E seus custos associados à perda de produtividade excedem US$ 920 bilhões. Disparidades financeiras (salários mais baixos) e sociais (violência doméstica, demandas familiares) fazem das mulheres as mais afetadas. Segundo o Vigitel (2021), 14,7% delas sofrem com depressão, ante 7,3% dos homens.

Os antidepressivos referidos como de segunda geração —uma classe ampla de medicamentos que modulam a concentração de neurotransmissores, como a serotonina— são considerados a linha de frente no combate da doença.

Ocorre que essas drogas apresentam um efeito terapêutico pequeno, particularmente em casos de depressão de intensidade moderada —quadro que resulta em sintomas mais leves e, portanto, causa pouco prejuízo às atividades sociais e profissionais.

Empresária Andréa Bulbarelli, 52, faz alongamento e corrida no parque do museu do Ipiranga, em São Paulo
Empresária Andréa Bulbarelli, 52, faz alongamento e corrida no parque do museu do Ipiranga, em São Paulo - Zanone Fraissat - 20.jul.22/Folhapress

Em adição à baixa efetividade, a justificada preocupação com possíveis eventos adversos, vício e estigmatização social amortiza a aceitação aos antidepressivos.

É neste cenário que surgem as intervenções de estilo de vida —centradas na melhora da qualidade da dieta e do sono, e na prática de atividade física— como ferramentas para amenizar os sintomas da doença.

No que tange ao exercício físico, nomeadamente, as diretrizes de tratamento para depressão ainda são vacilantes. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), por exemplo, reputa uma insuficiência de evidências para recomendar exercício como um tratamento da doença. Disso discorda a Associação Europeia de Psiquiatria ao reconhecer dados que respaldam o uso dessa ferramenta no manejo de quadros leves a moderados.

Para arrefecer a controvérsia, cientistas de Hong Kong revisaram os estudos que avaliaram a efetividade dos exercícios, dos antidepressivos e da sua combinação sobre os sintomas de depressão de intensidade não grave.

Foram analisados 21 estudos, que envolveram 2.551 pacientes. A análise conjunta dos dados possibilitou aos autores concluir que (1) exercício e antidepressivos são efetivos em reduzir sintomas, comparados ao controle (nenhuma intervenção); (2) o tratamento combinado com exercício e antidepressivos não é superior a cada um isoladamente; e, talvez o achado principal, (3) exercício e medicamentos promovem benefícios terapêuticos similares.

No que concerne às diferenças entre as intervenções, a taxa de desistência parece menor com os antidepressivos do que com o exercício (40% x 58%). E o inverso vale para a taxa de eventos adversos: 22% x 9% em desfavor aos medicamentos. No placar final, empate técnico.

Esses achados inserem, definitivamente, o exercício no arsenal terapêutico da depressão leve a moderada. E em pé de igualdade com as drogas antidepressivas.

Uma vantagem não desconsiderável das intervenções com exercício é que estas, para além de promoverem benefícios à saúde mental, melhoram a saúde cardiovascular, pulmonar, metabólica, imunológica, muscular, óssea etc.

Como ainda não há nenhuma droga capaz de exercer tais efeitos simultaneamente —e provavelmente nunca haverá—, pessoas com depressão, sob medicação ou não, precisam se exercitar.

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