Camila Rocha

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

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Taxação dos mais ricos tem apoio de 85% dos brasileiros

Respaldo a medida discutida pelo governo tem crescido de forma consistente

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No dia 17 de julho, em uma entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi enfático sobre a necessidade de taxar os brasileiros mais ricos. O tema deve ser discutido em maior profundidade durante a segunda etapa da Reforma Tributária, e, segundo o próprio ministro, será alvo de resistências importantes. No entanto, o petista conta com a opinião pública a seu favor.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2022 pela Oxfam Brasil, intitulada "Nós e as Desigualdades", o apoio ao aumento da tributação sobre os muito ricos estaria consolidada no Brasil. Os dados coletados no ano passado mostram que 85% dos brasileiros apoiam o aumento de impostos de pessoas muito ricas como forma de garantir educação, saúde e moradia para a população mais pobre.

Vista aérea de Morumbi e Paraisópolis
Região de Morumbi e Paraisópolis, na zona oeste de São Paulo - Eduardo Anizelli - 20.dez.20/Folhapress

Tendo em vista os dados reunidos desde 2017, o apoio cresceu de forma consistente. Em 2017, 71% da população defendia a taxação dos mais ricos. Em 2019, o índice subiu para 77% e, em 2021, para 84%.

No ano passado, constatou-se que a defesa da taxação é ainda maior entre pessoas com 60 ou mais anos (90%), com ensino fundamental (90%), entre brasileiros com renda familiar de até um salário mínimo (91%), moradores da região Nordeste (88%) e de cidades de até 50 mil habitantes (87%), pessoas que afirmam que experimentaram descenso social nos últimos cinco anos (88%) e mulheres negras (88%).

Aqueles contrários à proposta, 14% em 2022 e 28% em 2017, se concentram entre os estratos que gozam de maior renda e status social. Nesse sentido é possível destacar pessoas com ensino superior (19%), aqueles que ganham mais de cinco salários mínimos (34%), brasileiros que se autoclassificam como pertencentes à classe média alta (29%), pessoas que afirmam que ascenderam socialmente nos últimos cinco anos (18%) e homens brancos (16%).

Para além disso, a pesquisa registra ainda uma inédita reversão no apoio ao aumento de impostos em geral para assegurar melhor educação, mais saúde e moradia. Mais da metade dos respondentes, 56% dos brasileiros, concordam com a necessidade de maior tributação para custear gastos sociais —em 2017 apenas 24% da população era favorável, e 75% era contrária. Isso significa que, nos últimos cinco anos, o apoio ao aumento de imposto para financiar políticas sociais mais do que dobrou.

A defesa do aumento de impostos em geral para financiar políticas sociais é ainda maior entre jovens de 16 a 24 anos (60%), que têm ensino fundamental (66%), possuem renda familiar de até um salário mínimo (64%), moradores da região Nordeste (62%), pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada – BPC/Loas (65%), mulheres pardas (62%) e homens pretos (63%).

Tais dados refletem o apoio massivo da população por maior justiça e igualdade, mas também a urgência dos mais pobres em obter melhores serviços públicos, sobretudo educação, saúde e moradia. Assim, se a disputa pela taxação dos mais ricos corre o risco de ser reduzida a um embate retórico, o governo deve, ao menos, fazer o esforço necessário para preservar a saúde e a educação de cortes e restrições orçamentárias.

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