Descrição de chapéu carro elétrico

Apesar de sustentável, carro elétrico nem sempre é mais econômico; entenda

Segundo especialistas, veículo compensa no preço da recarga, mas fatores como alto custo do seguro podem atrapalhar

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São Paulo

Apesar do apelo sustentável, nem sempre um carro elétrico é a melhor opção para o motorista que busca economia, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha.

Eles apontam que os elétricos têm abastecimento muito mais barato do que modelos a gasolina ou etanol, mas são mais caros em outros aspectos, como a compra do veículo em si e o seguro.

Outro fator é o nível de utilização: se o elétrico for usado de forma intensa, vai gerar maior economia com combustível, mas pode perder valor de revenda, já que a quilometragem alta reduz o preço de um carro usado.

Imagem mostra carro elétrico sendo carregado por meio de um fio conectado a uma fonte. Ele está em um estacionamento, numa área pintada de verde.
Carro elétrico da BMW sendo carregado - Eduardo Anizelli - 23.jun.15/Folhapress

Na comparação entre dois modelos compactos —como é o caso de um Renault Kwid—, a versão elétrica gastaria com combustível apenas 20% do que seu similar a gasolina ou etanol. O levantamento foi feito pela consultoria Bright a pedido da reportagem. A empresa não revela os modelos usados no comparativo por uma questão de estratégia.

Segundo outro estudo, da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), numa viagem feita da avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, à avenida Paulista, em São Paulo, um carro elétrico que percorre 7 km por kWh gastaria R$ 53 com energia, enquanto um veículo a gasolina que roda 10 km por litro demandaria R$ 245 para ser abastecido.

No entanto, se o veículo for de grande porte, como SUVs, a economia final será menor. No mesmo comparativo, estimando um uso de 60 mil quilômetros, o modelo elétrico terá um TCO maior do que o convencional, pois terá depreciação mais rápida e mais gastos com seguro, IPVA e manutenção.

O seguro de um carro elétrico chega a ser o dobro da versão a combustão. "Se eu estou mensurando só no combustível, o carro elétrico faz sentido. A gente não está considerando o custo de aquisição, o seguro do carro, a depreciação", diz Murilo Briganti, diretor de produtos da Bright Consulting.

"O carro elétrico premium é mais um nicho de mercado e um status de vida. O consumidor está querendo ter esse carro por ser a vanguarda da tecnologia", prossegue Briganti.

Há algumas vantagens fiscais atreladas à aquisição de um elétrico, como a isenção de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) concedida no Distrito Federal, por exemplo. No estado de São Paulo, a isenção não é adotada, mas a Secretaria da Fazenda afirmou à Folha que estuda possíveis incentivos. Na cidade de São Paulo, os veículos elétricos estão dispensados do rodízio de carros.

Outros fatores a serem considerados são que o gasto com energia pode variar de acordo com a bandeira tarifária vigente no período e que as cidades ainda possuem poucos postos de recarga.

"A melhor opção para o mercado brasileiro hoje é o carro híbrido flex, que é movido tanto por gasolina ou etanol quanto por eletricidade", avalia Milad Kalume, diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato.

O executivo de marketing Rodrigo de Almeida, 51, tem carro elétrico desde 2016. Dono de um Chevrolet Bolt, já teve dois BMW i3 —todos movidos a eletricidade.

Depois de se mudar para Brasília, em 2020, Almeida já contou mais de 20 viagens feitas da capital federal a São Paulo. Nas primeiras nove vezes, precisou pernoitar em Uberlândia (MG) para fazer a recarga. Hoje, afirma que notou a abertura de mais postos para veículos elétricos.

"Para mim, o carro elétrico já se tornou uma opção muito interessante de economia, porque eu rodei mais de 50 mil quilômetros em estrada e são mais de R$ 20 mil que eu deixei de gastar em combustível", diz.

Apesar disso, Almeida afirma terem sido a discussão sobre o pré-sal e os riscos de derramamento de óleo os verdadeiros motivos para se interessar na compra de um elétrico. Ele é mergulhador autônomo e um dos fundadores da Abravei (Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores).

"No Brasil, carro é caro. Um usuário normal não vai comprar um elétrico por causa de economia", diz Almeida. Ele aponta sustentabilidade, performance, tecnologia e status como principais incentivos à aquisição desse tipo de veículo.

De acordo com a Bright, enquanto um carro flex a combustão no Brasil emite cerca de 105 gramas equivalentes de dióxido de carbono por quilômetro, o elétrico produz somente 21 gramas por quilômetro. O cálculo leva em consideração a produção e o transporte do combustível, os gases liberados pelo escapamento e a fonte de eletricidade, no caso dos veículos que a utilizam.

A ABVE registrou, no primeiro semestre deste ano, o emplacamento de 32,2 mil veículos leves eletrificados (que inclui carros híbridos e 100% elétricos) no Brasil —crescimento de 58% em relação ao mesmo período do ano passado. Junho foi o terceiro melhor mês de toda a série histórica e, segundo a entidade, os números indicam que o mercado pode superar os 70 mil emplacamentos previstos até o fim do ano.

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