Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Se Bolsonaro desistir de Guedes, Moro e dos generais, não chega ao Carnaval

Se o governo começar de fato, o que vai sobrar para eles? Nenhum olavista sabe nada de útil

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A briga entre Carlos Bolsonaro e Gustavo Bebianno foi uma disputa entre a facção do bolsonarismo que depende do clima de campanha permanente e a facção que quer começar a funcionar como um governo normal, no bom e no mau sentido.

O bolsonarismo das redes, a turma do Olavo, os filhos do Jair dependem desse clima de mobilização constante. Se o governo começar de fato, o que vai sobrar para eles? Nenhum olavista sabe nada de útil, nem do ponto de vista técnico, nem do ponto de vista político, que ajude alguém a governar.

O olavismo só engana otário, e na turma que Bolsonaro precisa convencer agora —os parlamentares, o mercado— não tem otário.

Por outro lado, a turma que apoiou Bebianno foi a que defende uma certa institucionalização do bolsonarismo. Estão nesse grupo Rodrigo Maia, recém-eleito presidente da Câmara, o vice-presidente Hamilton Mourão, a deputada Janaina Paschoal e toda a turma que está preocupada com a aprovação da reforma da Previdência.

Os olavistas, ao que parece, venceram a briga. A previsão é que Bebianno será demitido hoje. Perderam Maia, Guedes, Paschoal e Mourão.

O problema é o seguinte: Bebianno estava articulando com o Congresso pelas reformas. O governo já havia desistido sem maiores resistências do discurso "nova política". Muita gente estava de olho na distribuição das direções do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) nos estados. O segundo escalão dos ministérios estava sendo distribuído aos aliados como sempre foi, para que os aliados fizessem o que sempre fizeram.

Se as denúncias contra Bebianno forem referentes a essas negociações, ou se os aliados acharem que toda negociação será exposta pelo Twitter, a articulação política do governo Bolsonaro morre.

É como escrevi aqui depois da eleição para as presidências da Câmara e do Senado: com rede social você derruba o Renan, mas não aprova reforma.

Nesse quadro, como interpretar a decisão de Bolsonaro em favor do filho?

Em primeiro lugar, é possível que Carlos tenha denúncias graves contra Bebianno, graves demais para serem abafadas por muito tempo. Nesse caso, é preciso que o presidente da República as divulgue, mesmo que isso traga mais dificuldades para seu governo.

Em segundo lugar, como notou o jornalista Alon Feuerwerker, não é fácil para um governo se desvencilhar de sua facção mais leal, a que cai se ele cair. Bolsonaro não é indispensável para Guedes, para Moro, para os generais. Mas é indispensável para os doidões do Twitter. Os olavistas teriam o mesmo espaço em qualquer outro governo? Não. 

Se for esse o caso, entretanto, Bolsonaro precisa se perguntar se vale a pena estar cercado de gente leal em um governo fraco. Porque se ele desistir de Guedes, Moro e, especialmente, dos generais, não chega o Carnaval.

Restam as ameaças de Bebianno. O quase-ex-ministro vem dando todos os sinais de que cairá atirando. Se suas revelações forem referentes às finanças da chapa Bolsonaro/Mourão, pode ser instaurado um processo de cassação de chapa. 

Há, enfim, um cenário de inferno para Bolsonaro em que Carlos derruba a reforma e Bebianno derruba o governo. 

É difícil imaginar quatro anos de um governo como o da semana passada. Ou não será como na semana passada, ou não durará quatro anos.

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