Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu Governo Lula

Política econômica de Lula 3 não é nem a cara de Palocci nem a de Dilma

Equipe econômica até lembra aliança PT/PSDB sonhada por Palocci, mas circunstâncias políticas são piores do que as enfrentadas por Dilma

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O novo arcabouço fiscal mostrou que Lula-3 não é nem Lula-1 nem Dilma-1. É um governo que reconhece a necessidade de equilibrar as contas, mas vai tentar fazer isso gradualmente. Pode dar certo, pode dar errado, mas não há nada de maluco sendo proposto.

A boa notícia é que, pelos cálculos do economista Felipe Salto, ex-presidente da Instituição Fiscal Independente, a nova regra terá um efeito importante na evolução da relação dívida/PIB nos próximos anos.

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, em entrevista a jornalistas anunciando nova regra fiscal do governo Lula, em Brasília (DF) - Diogo Zacarias - 30.mar.2023/Ministério da Fazenda

Em uma entrevista para o site Brazil Journal, Salto afirmou que, em suas projeções anteriores, a relação dívida/PIB tinha tendência crescente chegando a 95,3% em 2032. Se a nova regra for aplicada, a projeção mostra esse número se estabilizando já em 2026-7.

Isto é, a nova regra, se for aplicada direito, deve evitar que a dívida pública brasileira saia de controle. Em condições normais, isso fará os juros caírem.

A má notícia é que, para cumprir a meta anunciada de zerar o déficit em 2024, serão necessárias medidas para aumentar a arrecadação. Enquanto essas medidas não forem anunciadas, permanecem dúvidas sobre a viabilidade dessas metas.

Resumindo, as chances da dívida não explodir no médio prazo melhoraram, mas as chances de o governo atingir os objetivos que propôs para si mesmo no curto prazo continuarão difíceis de calcular até que o pacote inteiro de medidas seja divulgado.

E as metas de curto prazo são balizas importantes: o governo investiu capital político ao anunciá-las, perderá se não as atingir. Se o PT pretende ser governo mais vezes no futuro, não deve desperdiçar credibilidade, como desperdiçou no primeiro governo Dilma.

Afinal, a proposta do governo Lula é uma boa sinalização para um horizonte mais longo: o governo de esquerda brasileiro está disposto a manter a trajetória da relação dívida/PIB sob controle impondo limites à sua própria capacidade de gastar os ganhos de arrecadação futuros.

Isso é um passo modesto, mas importante, em direção ao ideal de partidos sólidos que se veem como sócios de longo prazo da democracia. O PT sinaliza que tem algum interesse na saúde financeira do Estado cujo comando pretende disputar, às vezes ganhando, às vezes perdendo, por muitos anos.

Ainda há muito a caminhar nesse sentido, mas o que Lula propôs na quinta-feira foi um bom começo e deve ser visto em comparação com o que fizeram os governos de direita recentes.

A principal diferença entre o arcabouço fiscal de Lula e o teto de gastos de Temer é que Temer não limitou a si mesmo. O teto de gastos foi aprovado para o governo seguinte, que, por ainda não existir, não teve como reclamar na época em que o teto foi criado. Assim que o teto foi aplicado a um governo que existia —o governo Bolsonaro— o teto morreu, com ministro Chicago boy e tudo.

Ao contrário de Temer, Lula está aplicando um limite a si mesmo. Seria surpreendente se o limite aplicado por Lula a si mesmo não fosse mais flexível do que o limite aplicado por Temer a outras pessoas.

A política econômica de Lula 3 vai ganhando cara, para além do ruído dos últimos meses. Não é nem a cara de Antônio Palocci nem a de Dilma Rousseff. A equipe econômica até lembra a aliança PT/PSDB sonhada por Palocci. Mas as circunstâncias políticas são ainda piores do que as enfrentadas por Dilma.

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