Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Michigan mostrou fúria árabe contra Biden por papel na guerra em Gaza

Eleitores se dizem traídos pelo presidente e dizem preferir mais quatro anos sob Trump a reeleger o democrata

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Na segunda-feira (26), em um café árabe moderno em Dearborn, no Michigan, Nihad Awad, um dos fundadores e diretor-executivo nacional do Conselho de Relações Islâmico-Americanas (Cair, na sigla em inglês), disse-me que, como um muçulmano americano palestino que votou em Joe Biden em 2020, ele se sente "amargamente traído" pela posição do governo sobre a guerra na Faixa de Gaza.

Assim, ele estava na região de Detroit durante a semana para apoiar a campanha a convencer os eleitores a votarem em branco nas primárias presidenciais democratas de Michigan na terça-feira (27). Mas, à medida que nossa conversa avançava, ficou claro para mim que seu objetivo não é simplesmente enviar uma mensagem a Biden sobre a guerra e fazê-lo mudar sua política, como é o objetivo de muitos com quem conversei em Michigan nos últimos dias. Awad quer mais.

O presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington - Tom Brenner - 28.fev.24/Reuters

Ele não quer apenas que Biden seja politicamente corrigido; ele quer que ele seja politicamente derrotado.

Sobre o presidente, Awad diz: "Eu não acho que ele possa continuar liderando nosso país." Quando perguntei se há algo que Biden possa fazer para mudar sua opinião, Awad disse: "Ele pode se aposentar."

Anteriormente, eu havia feito a mesma pergunta a Dawud Walid, diretor-executivo do braço do Cair em Michigan. Ele disse que, para a maioria dos muçulmanos, qualquer coisa que não seja Biden "ressuscitar 29 mil palestinos mortos como Jesus faria" significaria que eles nunca mais votariam nele.

É claro que trabalhar para derrotar Biden também significa ajudar o retorno de Donald Trump, mas Awad e Walid parecem ter feito as pazes com isso.

Awad disse que não gosta de Trump e não dá as boas-vindas a um segundo mandato dele, mas está preparado para aceitar esse resultado em nome da punição a Biden. "Eu vou viver sob Trump, porque sobrevivi sob Trump, que é meu inimigo", diz. "Eu não posso viver sob alguém que finge ser meu amigo."

Ele acredita que provar um ponto sobre o poder do voto muçulmano vale a pena. "Vai ser doloroso? Quatro anos a mais sob Trump?", pergunta. "Eu digo sim, e estamos nos preparando para isso", acrescentando: "Pelo menos o que eu consegui é dizer a todo político: 'não nos tirem da equação, porque vocês sentirão falta.'"

Walid disse que, em um debate sobre o mal menor, Trump era, de certa forma, o menor. Como ele colocou, "por pior que tenha sido o discurso de Trump e o fato de ele ter imposto uma proibição de viagem a cinco países muçulmanos, ele não estava supervisionando e armando ativamente um genocídio."

É uma visão que ecoa o sentimento expresso no título de um artigo de opinião publicado na Al-Jazeera por Haidar Eid, professor associado da Universidade de Al-Aqsa em Gaza: "Ao desumanizar os palestinos, Biden superou Trump."

Mas e quanto aos muitos americanos que podem ficar horrorizados com a sugestão de que talvez tenham que passar por outra administração Trump? Nenhuma mudança importante será indolor, disse Awad, antes de invocar o nome de Aaron Bushnell, o sargento da Força Aérea em atividade que morreu após atear fogo em si mesmo em frente à Embaixada de Israel em Washington, enquanto gritava "Palestina Livre!"

Suas menções repetidas a Bushnell destacaram para mim a intensidade do argumento de Awad —como para ele a questão vai além do meramente político.

Estive novamente com Awad na segunda à noite na Mu'ath Bin Jabal, uma mesquita em Detroit, onde ele se dirigiu a uma grande reunião em árabe (ouvi por meio de um tradutor fornecido pela mesquita) e argumentou que, como os muçulmanos votaram em Biden em 2020, eles são cúmplices do papel que o presidente desempenhou em Gaza, e que era, portanto, sua obrigação votar em branco como arrependimento.

Awad foi acompanhado por Khalid Turaani, um dos organizadores do movimento "Abandon Biden" (abandonar Biden). Após a reunião, Turaani me disse que não quer que a administração Biden barganhe com os eleitores muçulmanos sobre a perspectiva de um cessar-fogo em Gaza —ele acha que Biden deve fazer isso de qualquer maneira. Ele disse: "Eu e minha comunidade precisamos punir Joe Biden tornando-o um presidente de um mandato." Awad disse que a longa carreira de Biden na política nacional deve terminar "com a vergonha e a desgraça do genocídio em Gaza."

Os muçulmanos representam apenas cerca de 1% do eleitorado geral, mas Awad acredita que há votos suficientes de muçulmanos em Michigan e Geórgia, dois estados-pêndulo, para tornar quase impossível para Biden vencer a reeleição sem o apoio deles.

Então, quantos votos em branco os organizadores precisavam para considerar sua campanha em Michigan um sucesso? Na manhã de terça-feira, Abbas Alawieh, porta-voz do Listen to Michigan, um grupo que ajudou a liderar a campanha pelo voto em branco, disse: "Sentimos que nosso movimento já teve sucesso porque sabemos que geramos um momento."

Mas Awad estabeleceu um número em sua métrica de sucesso: de 30 mil a 50 mil votos. Esse objetivo foi superado na terça-feira, já que mais de 100 mil pessoas votaram em branco nas primárias democratas.

Não sou alguém que se aventura em previsões eleitorais, então não vou declarar que a guerra entre Israel e o Hamas vai encerrar a Presidência de Biden da mesma forma que a Guerra do Vietnã efetivamente encerrou a de Lyndon B. Johnson. Mas, como minha colega do New York Times, Michelle Goldberg, escreveu na semana passada, mesmo que Biden não consiga satisfazer completamente aqueles mais horrorizados com sua abordagem em Gaza, "se ele não fizer mais para tentar, corre o risco de perder Michigan em novembro".

Qualquer noção de que os eleitores agora furiosos com o papel dos EUA em Gaza simplesmente "voltarão para casa" e votarão em Biden na eleição geral precisa de um ajuste sério.

Para alguns eleitores, isso não é apenas uma disputa de políticas. É uma missão moral, e a marca da vitória é uma derrota de Biden. A questão agora é: quão grande é esse eleitorado?

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