Charles M. Blow

Colunista do New York Times desde 2008 e comentarista da rede MSNBC, é autor de “Fire Shut Up in My Bones"

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Causa perdida de Donald Trump é miniaturizada, personalista e mesquinha

Ex-presidente tenta mitificar sua incapacidade de aceitar a derrota e seu completo desrespeito por normas democráticas

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The New York Times

Em um comício em Ohio em março, Donald Trump saudou os insurgentes que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 chamando-os de "patriotas incríveis" e se referindo àqueles que foram presos por seu envolvimento naquele terrível dia como reféns.

Isso foi uma continuação da mitificação da "Causa Perdida" de Trump que começou durante sua bem-sucedida campanha presidencial em 2016 e foi intensificada em prol de seus esforços para permanecer no poder apesar de sua derrota em 2020 e da violenta revolta que esses esforços incitaram.

Homem idoso loiro de terno e gravata azul
O ex-presidente dos EUA Donald Trump em tribunal em Manhattan - Curtis Means - 26.abr.2024/Reuters

Mais de 1.200 pessoas foram acusadas relacionadas ao 6 de Janeiro. E embora não devesse ser necessário dizer, vamos ser claros: aqueles que foram julgados, condenados e presos por invadir o Capitólio não são reféns, são criminosos.

Mas as narrativas da Causa Perdida não são sobre a verdade. São sobre negar a verdade.

O que aconteceu quando a mitologia da Causa Perdida foi construída após a Guerra Civil. A causa da guerra foi enquadrada como "agressão do Norte" em vez de escravidão. Uma lenda sobre escravos felizes e senhores benevolentes se proliferou. A narrativa enalteceu aqueles que se separaram e lutaram contra os Estados Unidos.

E sobreviveu em certa medida por mais de 150 anos, encaixada nas brechas de nosso corpo político. Ainda ressurge de maneiras que podem parecer distantes do mito da Causa Perdida Confederada, mas que definitivamente o promovem.

Manifestou-se no ano passado quando a Flórida alterou seus padrões de história afro-americana para dizer que os escravizados "em alguns casos" se beneficiaram de sua escravidão, e na hesitação de Nikki Haley na campanha para afirmar o óbvio, que a escravidão foi a causa da Guerra Civil.

Manifestou-se na infame marcha com tochas em Charlottesville, na Virgínia, e na amarga resistência à remoção de monumentos confederados.

Trump tem sua própria versão da Causa Perdida, uma que não está completamente desvinculada da antiga, mas uma que é miniaturizada, personalista e mesquinha.

A narrativa da Causa Perdida Confederada veio após uma enorme perda: centenas de milhares de soldados haviam morrido, o Sul estava devastado e sua economia estava prejudicada. A Causa Perdida de Trump, por outro lado, trata das queixas que ele promove, sua incapacidade de aceitar a derrota para Joe Biden e seu completo desrespeito pelas normas democráticas.

A versão de Trump surge de uma narrativa da Causa Perdida mais recente, que existe pelo menos desde a primeira campanha presidencial de George Wallace na década de 1960. Uma em que um sentimento de deslocamento e desapossamento é impulsionado por uma vantagem cultural perdida.

David Goldfield, historiador da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, disse-me que muitos dos apoiadores de Trump sentem que perderam algo semelhante ao que os brancos do Sul sentiram que haviam perdido após a Guerra Civil: "Eles não eram mais relevantes. Não eram mais ouvidos. E, além disso, havia muitas outras vozes em jogo publicamente que não estavam lá antes."

David Blight, historiador da Universidade de Yale vencedor do Prêmio Pulitzer, que escreveu em várias ocasiões sobre a Causa Perdida de Trump, disse-me que a iteração de Trump tem todos os elementos necessários: uma história de perda, culpados, vilões prontos e "uma enorme narrativa de queixa".

Como Blight explicou, Trump "se alimenta dessa história imaginada do que poderia ter sido, deveria ter sido, poderia ter sido e mais uma vez pode ser recuperado; a glória pode ser recuperada."

E Trump invoca sua Causa Perdida em combinação com outra narrativa falsa, de felicidade e união sem precedentes —na qual toda a glória pertence a ele. Como ele disse a uma multidão em Mar-a-Lago na Super Terça, "Afro-americano, asiático-americano, hispano-americano, mulheres, homens, pessoas com diplomas das melhores escolas do mundo e pessoas que não se formaram no ensino médio, todos os grupos estavam indo melhor do que nunca." Ele continuou, "Nosso país estava se unindo."

O que ele ignora é que sua Presidência começou com a Marcha das Mulheres, no dia seguinte à sua posse, e terminou pouco depois dos protestos de 2020, impulsionados pela indignação com o assassinato de George Floyd. Trump não uniu o país; ele o dividiu ainda mais.

Ao contrário de apelos anteriores da Causa Perdida, a de Trump tem a vantagem de um ambiente de comunicação moderno: notícias 24 horas, uma internet repleta de sites de notícias partidárias e mídias sociais —um mundo virtual multifacetado que alcança os lugares mais sombrios de nossa política.

E o apelo de Trump está recebendo uma nova chance, não apenas para simplesmente recontar a história, mas para vencer o próprio concurso e converter uma derrota eleitoral em uma vitória eleitoral.

Nesta eleição, os discípulos do movimento Maga [sigla em inglês para faça a América grandiosa novamente, slogan de Trump] não apenas têm a oportunidade de consagrar as falácias do ex-presidente. O Maga também pode ressurgir.

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