Cida Bento

Conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP

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Cida Bento

Mobilizações apontam caminho para enfrentar extremismo

Precisamos de alianças para fortalecer as instituições que defendem a democracia

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As grandes mobilizações que tomaram as ruas das principais capitais do país e obrigaram ao recuo dos parlamentares que pretendiam permitir a condenação de mulheres e crianças a penas de até 20 anos, até mesmo pela prática do abordo legal, apontaram um caminho para fazer frente às propostas da extrema direita.

O crescimento das correntes políticas de extrema direita no Brasil e no mundo deve ganhar centralidade na pauta das organizações e dos movimentos sociais, incluso da movimento negro brasileiro, até porque, em geral, as medidas propostas pela extrema direita afetam mais gravemente a nós, negras e negros.

Na questão da violência sexual, diretamente relacionada ao aborto legal, por exemplo, é oportuno lembrar que as mulheres negras são maioria nas estatísticas relacionadas à violência de gênero, conforme nos aponta o IBGE (2024), e que isso se repete nos levantamentos sobre a violência sexual: as mulheres representam 74% das vítimas de violência de gênero, mas as mulheres negras somam 60% desse grupo, conforme apontam os dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde.

Além disso, o estudo realizado pela Vital Strategies nos revela que em algumas áreas do país mulheres negras têm o dobro de chance de serem violentadas sexualmente, como no caso da região Norte.

Mas claro que o crescimento da extrema direita não afeta apenas negras e negros e sim uma ampla gama de estratos sociais, em geral os mais vulnerabilizados de nossa sociedade. Por que é disso que se trata quando se fala dos fascistas: a defesa intransigente dos privilégios das classes e setores dominantes.

Para fazer frente a esse perigo, é preciso uma ampla união dos movimentos sociais —como o movimento negro, de mulheres negras, os movimentos LGBTQI+, de mulheres e ambientalistas— em uma aliança propositiva para lidar de maneira unificada contra esse fortalecimento da extrema direita.

É mais ou menos o mesmo que propôs o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao sugerir uma estratégia internacional para enfrentar o crescimento de movimentos de extrema direita no mundo, reunindo os "presidentes democratas" em evento paralelo à Assembleia-Geral da ONU em setembro.

Como disse Lula, ao lançar a proposta, "nós estamos vivendo um novo período, os setores de esquerda, os setores progressistas, os setores democráticos têm que se organizar, têm que se preparar".

Em outra declaração, dessa vez em discurso na 37ª Cúpula da União Africana, no começo deste ano, Lula afirmou que a alternativa às mazelas da globalização neoliberal não virá da extrema direita racista e xenófoba —lembrando que o desenvolvimento não pode continuar sendo privilégio de poucos e que só um projeto social inclusivo nos permitirá ter sociedades prósperas, livres, democráticas e soberanas. Ou seja, não haverá estabilidade e democracia com fome e desemprego.

Seguindo essa linha, penso que precisamos de alianças para o fortalecimento das instituições democráticas, aproximando os grupos que acreditam na democracia. Essa luta é imprescindível em anos como este, de eleições, mas não só neste período, pois a extrema direita está sempre à espreita.

Essa coluna contou com a participação de Flavio Carrança, do Cojira

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