Ainda criança, quebra um vaso, um quadro, um enfeite de estimação da mãe. Ela vive dizendo para não jogar bola na sala, para não ficar de correria, para não brincar com os bibelôs. Que mãe não tem uma coruja meio descascada ou um sapatinho de porcelana que resistem, inexplicáveis, às mudanças da decoração? Mas então o troço já está em pedaços e ele apela ao pai para salvar sua pequena pele. Os dois põem a culpa na irmã menor, que mal fala duas sílabas.
Com 13, 14 anos, ele não está nem aí para o português, a matemática, a história. Nem aí para nada. Seu exemplo é o pai, que desde sempre desprezou a educação. Tudo o que eu aprendi foi na escola da vida, e com pós-graduação, o velho repete, zero em originalidade. Ele ri.
Colar nas provas, matar os períodos, fazer zoeira, desrespeitar as professoras, está tudo dentro do previsto. Mesmo assim, ele mesmo assina os bilhetes que a diretora não cansa de mandar, o rabisco do pai bem imitadinho. Para que se incomodar com coisa tão sem importância?
De treta em treta, percebe que sempre existe um jeito de livrar a cara. Já que, para tipos como ele, é socialmente obrigatório ir para a faculdade, ele vai e apronta todas. Não apenas se safa, como ainda é escolhido orador da turma —que orgulho. Faz alguma merda no trânsito, coisa feia mesmo, mas nada que o advogado da família, que o conhece desde criança e que sabe o potencial em honorários que ele representa, não consiga resolver.
Quando vê, é um adulto infantiloide, desses que pensam que podem tudo e que praticam o “sabe com quem cê tá falando?” sem constrangimento. Mais um do seu nome, herdeiro de um legado, a política é a carreira certa para ele.
Filhinho de papai, playboy, rei do camarote, ele só se relaciona com um bando de gente parecida e com uma corriola de puxa-sacos que nunca, em nenhum momento, contraria as suas barbaridades e ameaças.
Se você conhece alguém assim, dê um toque para o pai dele antes que seja tarde.
Não tem nada a ver com Piaget e Paulo Freire, nenhum desses comunistas, é sabedoria de avó mesmo: recomenda-se dar aos filhos o mínimo de limite. Vai que o rapaz se meta em algo realmente sem volta que, mesmo com todos os recursos, não seja possível acobertar. É difícil, mas
pode acontecer.
Tomara.
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