Cláudia Collucci

Jornalista especializada em saúde, autora de “Quero ser mãe” e “Por que a gravidez não vem?”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Cláudia Collucci

Pobreza faz mal à saúde

Maiores comorbidades da Covid foram as iniquidades sociais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A pandemia de Covid-19 expôs e aprofundou graves desigualdades em saúde que precisam ser enfrentadas pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e os novos governos estaduais que assumem em 1º de janeiro.

A letalidade da doença em municípios mais pobres foi 30% maior em comparação com as cidades mais ricas. Falta de acesso a serviços de saúde de qualidade e maior carga de doenças crônicas em populações vulneráveis estão entre as causas.

Uma pesquisa do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), publicada na revista médica The Lancet, em 2021, resumiu esse impacto: as maiores comorbidades da Covid não foram a estrutura etária da população e tampouco a prevalência de fatores de risco. Foram, sim, as iniquidades sociais.

0
Com a pandemia da Covid-19 e crise econômica, famílias vão morar na rua e constroem barracos embaixo de viaduto, na zona leste de São Paulo (SP) - Marlene Bergamo/Folhapress

Muitas das disparidades em saúde também se cruzam com outras desigualdades, como as raciais e as relacionadas às moradias precárias, às condições informais de trabalho e ao déficit educacional.

Em 2018, outro estudo também na Lancet usou evidência científica robusta para cravar: a pobreza e a desigualdade social prejudicam seriamente a saúde e reduzem a expectativa de vida mais até que outros conhecidos fatores de risco.

Os autores cruzaram dados de mais de 1,7 milhão de adultos entre 40 e 85 anos e concluíram que o baixo nível socioeconômico encurta a vida tanto quanto o sedentarismo (2 anos, em média) e mais do que a obesidade, o consumo de álcool e a hipertensão (7 meses, 6 meses e 1 ano e seis meses, respectivamente). Só perde para o diabetes (3 anos e 9 meses) e o tabagismo (4 anos e 8 meses).

Eles questionam o fato de as autoridades de saúde, mais especificamente a OMS (Organização Mundial da Saúde), não darem às questões sociais a mesma relevância que conferem a outros fatores de risco modificáveis. E defendem que, da mesma maneira que se pode promover o abandono do hábito de fumar, o fator socioeconômico também é passível de ser modificado, com intervenções como promoção do desenvolvimento na primeira infância, políticas de redução da pobreza e melhoria no acesso à educação.

O estudo reuniu dados de países europeus, Estados Unidos e Austrália. O Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, ficou de fora, mas tem um exemplo perfeito de disparidades na sua cidade mais rica.

Em São Paulo, há uma diferença de 21 anos da idade média ao morrer entre os bairros Jardim Paulista (80 anos), e Iguatemi (59 anos), um dos piores IDHs da capital.

As desigualdades matam, e elas precisam ser enfrentadas com políticas estruturantes de longo prazo, que vão muito além do Bolsa Família. Diagnósticos e propostas não faltam.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.