Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Afastar pedestre do nível da rua pode gerar ganhos de segurança

Modelo já existe, em diferentes formatos, nos EUA, no Canadá e na Índia

Embora afastar os pedestres do nível da rua pareça trágico para a manutenção da vida e da atmosfera vibrante desses espaços públicos, essa ação pode gerar efeitos positivos na garantia da segurança física  e da saúde das pessoas. Por outro lado, pode alterar de forma drástica a lógica espacial de funcionamento das cidades.

A separação entre pedestres e veículos pode ser feita por calçadas elevadas, paralelas à via e interconectadas a edifícios, passarelas e túneis, entre outras estruturas urbanas disponíveis para essa finalidade.

Algumas cidades norte-americanas, como Mineápolis e Calgary, têm sistemas de calçadas elevadas paralelas às ruas originais. Em Hong Kong, há circuitos tridimensionais flutuantes, que conectam terminais de transporte, shopping centers, torres de escritórios e parques.

Em Toronto, no Canadá, não só pelos benefícios em separar pedestres e veículos, mas também por questões climáticas, foram construídos cerca de 30 km de caminhos subterrâneos, que conectam estações de metrô a vários destinos. Ao longo dessa rede de túneis, existe uma intensa atividade comercial por onde passam, diariamente, 200 mil pessoas, que têm à disposição cerca de 1.200 lojas, que geram 6.000 empregos.

Na cidade de Mumbai, na Índia, onde faltam jardins, parques e até mesmo calçadas, 52% das viagens diárias são feitas a pé. Por essa razão, as autoridades decidiram construir calçadas elevadas. Até agora, são 36 unidades, que cobrem uma distância de 17 km.

Embora esses exemplos se repitam em várias partes do mundo, essas experiências, chamadas de urbanismo multinível, têm recebido pouca atenção crítica, embora possam ter fundamental relevância na produção do espaço urbano.

Esses sistemas alternativos de circulação de pedestres, que podem dobrar ou triplicar a capacidade de circulação no nível da rua, são capazes de gerar camadas de espaços públicos independentes e com ambiência própria.

Dessa forma, esse modelo pode ser uma alternativa interessante para os planejadores urbanos, em função de sua capacidade de concentrar pessoas, gerar atividades comerciais e provocar alterações no mercado imobiliário.

Os projetos de circuitos tridimensionais centrais para circulação de pedestres, que também podem conter jardins e outras amenidades, tendem a se expandir de acordo com os interesses privados e incentivos legais. O estímulo à conexão aérea entre edifícios, e entre edifícios e estruturas tridimensionais centrais, pode gerar distritos comerciais multiníveis, que, seguramente, estimularão a conexão de novos edifícios ao sistema, criando oportunidades de mercado e novos produtos imobiliários.

À medida que as cidades forem redesenhadas em busca dessas novas possibilidades, precisaremos nos concentrar na criação de espaços de uso público, que se conectem e interajam com os arredores, criando modelos que considerem a existência de múltiplas funções dentro de uma nova rede de mobilidade.

A implantação desses sistemas de circulação em níveis paralelos, que pode ser considerada radical em termos de projeto urbano, requer amplas reflexões acerca das transformações sociais e urbanas que podem gerar. Além disso, devem ser avaliados os riscos da implantação desse modelo em larga escala. Contudo, estamos diante de uma alternativa importante na solução de problemas de deficiência de infraestrutura destinada à circulação de pedestres, presente em muitas cidades.

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