Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Cidades transformam terrenos contaminados em áreas verdes

Iniciativa ocorre em países como Canadá e Estados Unidos

A população urbana mundial, que era de 750 milhões em 1950, deve chegar a 5 bilhões em 2030. Fica cada vez mais evidente que os modelos mais eficientes de desenvolvimento para as cidades passam por uma racionalização dos espaços, otimização da infraestrutura instalada e adequação dos custos de produção ao bolso dos consumidores. Nesse cenário de alta densidade de urbanização, as áreas verdes passam a ser determinantes para a vida nas cidades.

Por outro lado, o assunto ganha contornos interessantes, por exemplo, quando em Londres, capital da Inglaterra, em função do déficit de habitações, acaloradas discussões abordam propostas para construção de novas unidades habitacionais em áreas verdes que se encontram deterioradas.

Parece óbvio que todos defendam a produção de habitações para atendimento da demanda, mas deve haver equilíbrio entre a cidade de concreto e a natureza. Cinturões e espaços verdes distribuídos inteligentemente pela cidade não são apenas soluções estéticas ou fontes de captação de dióxido de carbono. Eles podem servir de abrigo para a fauna urbana e proteger sua biodiversidade, ao mesmo tempo em que permitem à população manter um contato próximo com a natureza.

De forma até paradoxal, em alguns locais no Reino Unido, Canadá e EUA, a recuperação de áreas contaminadas também tem o objetivo de criar novos espaços verdes na cidade. Existe um crescente reconhecimento de que os terrenos contaminados têm enorme potencial para, uma vez recuperados, serem transformados em parques ou áreas verdes.

Segundo estudos realizados pelo departamento de Geografia da Universidade de Wisconsin, em Toronto, no Canadá, mais de 6 milhões de metros quadrados de áreas contaminadas foram recuperados e convertidos em áreas verdes.

Os níveis de descontaminação exigidos nesses casos foram pautados pelas condições de cada sítio, associadas ao nível de proteção e exposição requeridos. No parque Woodbine, por exemplo, o critério de descontaminação levou em consideração a provável exposição a crianças de até 5 anos de idade. Contudo, em todos os casos, a preocupação foi sempre para que não houvesse exposição a eventual contaminação residual prejudicial.

Pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos EUA, com base na experiência de Toronto, concluíram que a recuperação de áreas contaminadas é excelente oportunidade para aumentar as áreas verdes nas cidades, melhorar a qualidade do solo, criar mais espaços para o lazer e revitalizar os bairros envolvidos. Os impactos envolvem dimensões não somente ambientais, mas sociais, ecológicas, culturais e econômicas.

O estudo aponta ainda que as ações requerem o envolvimento não só do setor público, mas da comunidade, na identificação das oportunidades e dos locais prioritários para essa recuperação. Em função dos custos envolvidos, a identificação de fontes de financiamento, que possam incluir de forma satisfatória parcerias público-privadas, é também apontada como essencial.

Embora grande parte dos exemplos de recuperação existentes hoje venha de ações promovidas pelo poder público, a estruturação de novos modelos que envolvam a iniciativa privada pode fazer com que esses parques oriundos de terrenos contaminados tornem-se mais presentes nas cidades nas próximas décadas, se forem adequadamente incentivados.

Por mais estranho que possa parecer, é possível transformar uma tragédia ambiental numa oportunidade para restauração do ecossistema e da biodiversidade urbana.

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