Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Uso da conectividade contra a segregação urbana

Investimento em corredores de mobilidade não pode negligenciar melhorias em áreas mais pobres

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No âmbito das cidades, podemos definir conectividade como o sistema de ligação entre bairros e polos urbanos, local ou regionalmente, efetuada por meio de corredores de mobilidade.

Focar o planejamento urbano em conectividade significa criar redes eficientes de conexão, que possibilitem às pessoas locomoverem-se com facilidade entre sua vizinhança residencial e outros polos regionais onde necessitam estar, eventualmente, para desempenhar suas atividades diárias.

Esse modelo contrasta, de certa forma, com o conceito de melhorar a acessibilidade aos serviços e às amenidades locais, pois incentiva a locomoção das pessoas pela cidade, deslocando-as de suas vizinhanças. Dessa forma, o investimento mais apropriado seria em conectividade ou na melhoria da acessibilidade, ambiência e economia locais? Será que a conexão de áreas degradadas do tecido urbano com o restante da cidade pode ser responsável pela melhoria local?

Conectividade implica em uma mudança conceitual de planejamento, onde a movimentação das pessoas entre polos da cidade ganha maior importância e as relações sociais ao longo dos deslocamentos ganham outros contornos.

Portanto, o foco na mobilidade resulta no chamado planejamento para a conectividade, ou seja, pautar ações voltadas aos locais de alta conectividade, no entorno dos nós e ao longo dos corredores de transporte.

Nesse contexto, o fluxo de pessoas passa a ser o núcleo do modelo de planejamento, o que possibilita a inclusão no processo de diferentes materialidades e múltiplas formas de deslocamento urbano. Além disso, pavimentam-se abordagens de projeto diferenciadas nas conexões entre os nós de transporte, em escala local e regional.

Estudos desenvolvidos na Suécia pela professora Karin Grundstrom, da Universidade de Malmo, e publicados no Nordic Journal of Architectural Research, apontam que o planejamento com foco na conectividade aumentou o movimento pelas vizinhanças desfavorecidas e segregadas, e isso contribuiu para a regeneração dessas regiões. É importante que os planejadores entendam a mobilidade também como recurso, para, por meio do acesso, interferir na vitalidade econômica e social de determinadas regiões.

O estudo sueco mostra que, embora as regiões segregadas sejam beneficiadas pela implantação dos conceitos de conectividade, os distritos mais ricos se beneficiam ainda mais, uma vez que a implantação desse modelo amplia a conectividade das regiões não segregadas. Isso, infelizmente, faz com que o padrão de segregação relativa persista, mesmo com investimentos para alcançar as regiões mais segregadas.

Consequentemente, o estudo aponta que novos investimentos deveriam ter escala suficiente para quebrar o padrão de segregação existente, buscando equilibrar regiões mais e menos segregadas.

Entretanto, se por um lado os investimentos em conectividade podem facilitar a movimentação das pessoas pela cidade, por outro lado, podem trazer o risco de redução de investimentos localmente, já que, quando há facilidade no deslocamento, a presença de equipamentos públicos e sociais de qualidade próximos passa a não ser tão relevante. Contudo, o acesso a serviços e amenidades locais permanece crucial para grande parcela da população em função de faixa etária, situação econômica, capacidade física de movimentação e idade.

Embora a conectividade possa, e deva, ser utilizada como um instrumento contra a segregação urbana, isso deve ser feito com os cuidados necessários, sem negligenciar os investimentos na melhoria regional.

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