Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Descrição de chapéu Mercado imobiliário

A importância da infraestrutura dos bairros na mobilidade social intergeracional

Estudos apontam que inclusão em bairros mais favorecidos tem efeitos relevantes na criação de pontes para a mobilidade social

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A maioria das cidades é dividida em bairros, ou porções do território caracterizadas não apenas por sua posição geográfica, mas por um sentimento de localidade que une os moradores, via de regra agrupados por similaridade socioeconômica. Existem, entretanto, bairros mais favorecidos que outros em termos de infraestrutura social, cultural e física, o que pode levar à exclusão social daqueles que moram em bairros mais desfavorecidos, dificultando ou praticamente impedindo que exista uma mobilidade social intergeracional.

Os altos custos da habitação, oriundos de políticas equivocadas de uso e ocupação do solo, podem impedir que parte da população de uma cidade possa morar em bairros que oferecem segurança, boas escolas, lazer adequado e boas opções de mobilidade, obrigando-as a viver em áreas com escolas precárias, serviços públicos inadequados, deterioração física e ambiental, além de altos níveis de crime e violência.

Compreender os mecanismos pelos quais as condições da vizinhança podem afetar os resultados sociais e econômicos de longo prazo para seus residentes é um passo crucial na promoção da mobilidade social. Ao mesmo tempo, pode trazer subsídios para que o planejamento urbano seja direcionado também por esse objetivo.

Pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, analisaram os efeitos da mudança para bairros mais favorecidos, estudando mais de cinco milhões de famílias americanas nessa situação. Foram identificadas evidências de que os bairros afetam a mobilidade intergeracional por meio de efeitos de exposição na infância. Em particular, a evolução das crianças cujas famílias se mudam para um bairro mais adequado em termos de infraestrutura ——​medida por meio da comparação com as crianças que já vivem lá melhora linearmente em proporção ao tempo que crescem nessa área. Foram caracterizados ainda os efeitos desses bairros sobre os rendimentos das crianças e outros resultados, na idade adulta.

Os estudos apontaram que a inclusão nos bairros mais favorecidos, de famílias residentes em bairros mais desfavorecidos, tem efeitos relevantes na criação de pontes para a mobilidade social entre gerações. Por exemplo, as pesquisas mostram que o fato de uma criança nascer e crescer em um bairro melhor pode aumentar em até 10% sua renda na idade adulta, o que, por si só, já é um indicativo positivo de mobilidade social.

Relatório de pesquisa efetuada pela US Partnership on Mobility from Poverty aponta que o acesso limitado a serviços de boa qualidade em comunidades carentes prejudica significativamente as famílias. A exposição ao crime e à violência pode perturbar profundamente o desenvolvimento das crianças e adolescentes, prejudicando seu bem-estar a longo prazo. As experiências de trauma e abuso na infância estão fortemente relacionadas a problemas futuros de saúde física e mental, como alcoolismo, câncer e risco de suicídio.

A pesquisa mostra ainda que os laços sociais das pessoas em bairros menos favorecidos estão mais confinados às comunidades em que vivem do que os das pessoas de renda média e alta, tornando-os mais dependentes das redes sociais de sua vizinhança para obter informações, serviços e apoio mútuo. No entanto, nesses bairros menos favorecidos, essas redes são limitadas nas oportunidades e serviços que podem fornecer, criando-se, portanto, um ciclo vicioso.

Problemas como os apontados, existentes em muitas cidades do mundo, não deixam de estar presentes também na cidade de São Paulo, onde, nos últimos 50 anos, houve uma expulsão da classe média para bairros menos favorecidos, com consequências dramáticas. Talvez ainda tenhamos tempo de, por meio de uma revisão nos conceitos urbanísticos envolvendo o uso e ocupação do solo na cidade, estancar esse processo, criando um modelo vitorioso de mobilidade social intergeracional.

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