Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Descrição de chapéu Mobilidade

Vancouverismo é um modelo a ser copiado?

Planejamento canadense alia os núcleos de adensamento ao uso misto e inclui a escolha por menos automóveis

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Inspirado no desenvolvimento da cidade de Vancouver, no Canadá, "vancourverismo" é um termo cunhado para designar o modelo de planejamento ocorrido naquela cidade, calcado em formas de tornar viável o adensamento, respeitando princípios de sustentabilidade, qualidade de vida e, posteriormente, resiliência urbana.

O conselho municipal de Vancouver procurou aumentar a atratividade de sua área central, incrementando a densidade populacional. Foram alteradas as regras de planejamento urbano e os esquemas de zoneamento, oferecendo aos empreendedores a opção de construir condomínios residenciais em edifícios altos.

Ciclistas pedalam no paredão do Stanley Park, atravessando a English Bay a partir dos condomínios West Vancouver, em Vancouver, Canadá - Chris Helgren/REUTERS

Grandes projetos imobiliários também foram objeto de debates públicos, para os quais seriam oferecidas isenções das regras de planejamento, em troca da construção de habitação social ou equipamentos públicos. Essa foi, na verdade, a inspiração para a operação interligada implantada na cidade de São Paulo e, depois, transformada na outorga onerosa do direito de construir, instrumento urbanístico instituído no Estatuto da Cidade, em 2001.

O "vancouverismo" está fundamentado na permissão de construir novos empreendimentos em núcleos previamente identificados e urbanisticamente funcionais, com alocação adequada de parques, escolas, centros de saúde, comércio, serviços, vias estruturadas para caminhadas, centros comunitários, espaços para arte etc. Pelo menos 30 hectares de novos espaços abertos, compostos por parques públicos ou áreas verdes privadas, foram criados na área central da cidade.

Nesse modelo de planejamento, os núcleos de adensamento são aliados ao uso misto, à diversidade, construções verdes, facilidades comunitárias e mobilidade alternativa, que inclui a escolha por menos automóveis, mais caminhada e ciclismo, com acessibilidade universal. Aproximadamente 70% de todas as viagens na área central de Vancouver são feitas de forma não motorizada.

Como enfatiza Larry Beasley, ex-diretor de planejamento da cidade de Vancouver, foi necessária uma exposição clara e sem preconceitos para a sociedade acerca da necessidade do adensamento.

Contudo, a forma atual da área central de Vancouver não foi acidental. Muito esforço foi alocado para o seu desenho urbano, com administração de insolação, sombreamento, proteção visual de áreas públicas e definição de novas tipologias de edificações, com casas (townhouses) no térreo dos edifícios, especialmente em locais onde houve a identificação de não haver demanda para mais fachadas ativas com comércio e serviços.

Segundo Beasley, pensou-se em reverter a ideia negativa preconcebida sobre adensamento. As pessoas precisavam entender a necessidade da maior densidade, mas ao mesmo tempo ficarem cientes de que a qualidade de vida deveria estar assegurada.

Paralelamente, sob as lentes da equidade, uma estratégia de desenvolvimento social progressiva deveria ser adotada desde o princípio, e questões básicas, como habitação de interesse social e população em situação de rua, não poderiam ser negligenciadas. Por outro lado, uma ampla busca por acessibilidade habitacional, aí incluída a classe média, é essencial no processo.

Mas, seria esse um modelo a ser copiado em cidades como São Paulo?

A semelhança no que diz respeito à importância da conscientização sobre a necessidade do adensamento é evidente; mas é clara também a demanda por estratégias de desenvolvimento que garantam qualidade de vida como premissa primordial à adoção do modelo. Parece mesmo ser um padrão a ser repetido, desde que sejam feitas as adaptações necessárias a cada caso específico.

Os custos e benefícios da densidade requerem uma compreensão dos potenciais efeitos diretos, indiretos e cumulativos (ambientais, econômicos e sociais), tanto dentro quanto fora do local.

A otimização das densidades implica na necessidade de identificar as condições que podem criar mais valor para a cidade, especificar os locais mais apropriados para concentrar futuros habitantes e atividades, e promover a justiça espacial.

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