Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Clóvis Rossi

Esquerda respira na Colômbia

Pleito legislativo e primária interna testam candidato que vai na contramão da onda liberal

O ex-prefeito de Bogotá e candidato presidencial Gustavo Petro discursa para militantes durante um comício em Medellín
O ex-prefeito de Bogotá e candidato presidencial Gustavo Petro discursa para militantes durante um comício em Medellín - Joaquín Sarmiento - 22.fev.2018/AFP

Na contramão do avanço liberal/conservador na América do Sul, a Colômbia testa neste domingo (11) a força de um candidato esquerdista que se tornou rapidamente um fantasma a assombrar a direita e os meios empresariais.

Chama-se Gustavo Petro, tem 57 anos, militou inicialmente no M-19, grupo guerrilheiro que deixou as armas em 1990, foi prefeito de Bogotá, afastado por suspeitas de irregularidades no sistema de coleta de lixo, e, agora, disputa uma espécie de primária interna na esquerda.

Sua vitória é tida como certa, mas o que importa no caso é o número de votos que vier a obter, conforme explica o sítio La Silla Vacía (A Cadeira Vazia), excelente publicação digital:

"Se Petro não conseguir superar 1,5 milhão de votos, murcha a imagem de que é inevitável que esteja no segundo turno" [da eleição presidencial, marcada para 27 de maio], no qual a direita certamente estará.

A votação deste domingo é para Câmara e Senado, além de definir também as primárias da esquerda e da direita (esta mais apertada, entre o candidato do ex-presidente Álvaro Uribe, Iván Duque, e a do Partido Conservador, Marta Lucía Ramírez; há um terceiro candidato, sem chances, Alejandro Ordoñez).

La Silla Vacía calcula que Petro, se ficar abaixo de 1,5 milhão, teria de duplicar sua votação nos dois meses entre a primária e a presidencial, "algo que não é tão fácil, levando em conta o teto que tem porque ele é associado ao castrochavismo e porque terá todo o establishment contra".

A direita usa o colapso da Venezuela e o afluxo maciço de refugiados à Colômbia como propaganda anti-Petro, tentando demonstrar que, com ele na Presidência, o país viraria uma nova Venezuela.

É um exagero comparar Petro ao chavismo ou ao castrismo, mas seu programa é de fato de esquerda. Propõe, por exemplo, aumentar impostos para multinacionais e incrementar o papel do Estado nos sistemas bancário e previdenciário.

O Financial Times compara a plataforma de Petro à do mexicano Andrés Manuel López Obrador, também de esquerda e também líder nas pesquisas.

É razoável comparar o candidato colombiano igualmente ao Movimento 5 Estrelas da Itália, porque ambos surfam no descontentamento do público com os políticos tradicionais.

"A campanha de Petro capitaliza o disseminado descontentamento social com toda a classe política", disse ao FT Juan Carlos Rodado, diretor de pesquisa sobre América Latina do Natixis, banco francês de investimentos.

Petro não é o único candidato de esquerda: será a primeira vez que a Farc (antes Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, agora Força Alternativa Revolucionária do Comum) se apresentam nas urnas, depois de 52 anos em que preferiram as armas.

Pelo acordo de paz firmado em 2017, a nova Farc tem asseguradas dez cadeiras no Parlamento, cinco em cada Casa, qualquer que seja a sua votação.

Mas tem uma imagem tão ruim que há sérias dúvidas de que seja capaz de conseguir os 400 mil votos que permitiriam obter mais cadeiras do que as outorgadas pelo acordo de paz.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.