A Organização Mundial da Saúde bem que poderia propor, mundo afora, uma campanha para demonstrar que nacionalismo, quando excessivo, faz mal à saúde de um país e, pior, é contagioso.
O caso mais recente é o de Israel: a aprovação, no dia 19 de julho, de um projeto de lei que define Israel como “Estado-nação do povo judeu” causou uma cisão dispensável entre os próprios judeus.
Dispensável porque nenhum judeu que esteja de posse de suas faculdades mentais tem a mais remota dúvida de que Israel é, desde sua criação, faz 70 anos, o Estado dos judeus. Basta olhar para a bandeira de Israel, com sua estrela de David no centro, para confirmar o que todo o mundo sabe.
A nova lei não vai mudar um centímetro a mentalidade de alguns idiotas antissemitas ou antissionistas e de uma parte significativa do mundo árabe, que preferem desconhecer a realidade e querem jogar os judeus no mar. Ao contrário, a lei só dá argumentos para ver racismo no comportamento do governo israelense, o mais nacionalista e reacionário da história.
Basta ver a reação de judeus de destaque, como a líder do partido Meretz, de centro-esquerda, Tamar Zandberg, para quem a lei “é um ato de sabotagem contra a legislação israelense, ao substituir igualdade por racismo”.
É uma alusão ao fato de que a lei do “Estado-nação do povo judeu” violenta a Declaração de Independência de Israel, que, à falta de uma Constituição codificada, representa uma espécie de lei maior no país.
Essa colisão frontal foi relembrada por outro judeu destacado, David Horovitz, editor-chefe do site The Times of Israel, jornalista que sempre defende o país e seus princípios básicos, o que não o impede de criticar o governo quando acha que viola regras essenciais.
Horovitz puxou declaração de Tzipi Livni, que já foi do Likud, o partido ultradireitista de que o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, é o atual líder, na qual a ex-deputada lembra que a Declaração de Independência promete “completa igualdade de direitos políticos e sociais para todos os habitantes, independentemente de religião, raça ou sexo”.
A nova lei, ao contrário, transforma em cidadãos de segunda classe os árabes (20% dos 8,6 milhões de habitantes de Israel), os drusos (2%) e os católicos (2%).
Até a Igreja Católica, que pouco se pronuncia em Israel, emitiu comunicado em que chama a nova lei de discriminatória e diz que viola a legislação não só israelense mas também internacional.
Outro comunicado partiu de mais de 180 intelectuais, a maioria judeus, entre eles nomes de prestígio internacional como Amos Oz, David Grossman e Etgar Keret. Dizem que a nova lei é um “severo golpe aos valores de igualdade e de mútua responsabilidade nos quais se baseia a sociedade israelense e dos quais deriva sua força”.
O racha ficará mais explícito no sábado (4), dia para o qual foi convocada marcha de protesto em Tel Aviv.
Com o conflito com os palestinos permanentemente latejando, tudo o que Israel deveria dispensar é esse mergulho nas águas do nacionalismo, soberanismo e tribalismo.
Mas, depois de Trump e sua “América Primeiro”, a onda vai pegando. Não parece que “Israel Primeiro” seja melhor do que o país dos judeus que já existia antes.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.