Até ontem, partidos e movimentos ditos populistas e/ou nacionalistas pareciam em marcha triunfal rumo ao poder no mundo todo ou, ao menos, na Europa e nos Estados Unidos.
De fato, um amplo levantamento do jornal britânico The Guardian mostra, por exemplo, que o voto nos populistas, de esquerda mas principalmente de direita, passou, na Europa, de 7% em 1998 a 26% em 2018.
Mostra também que cerca de 170 milhões de pessoas vivem em um país em que ao menos um membro de um partido populista participa do governo, dez vezes mais que em 1998.
Que há uma onda populista em curso não dá para negar. A propósito: o triunfo de Jair Bolsonaro no Brasil pode ser incluído nessa onda, por muito toscas que sejam suas premissas.
Mas convém matizar algo as coisas. Primeiro, nenhum partido populista conseguiu mais do que um quarto dos votos, o que está bem longe, portanto, da maioria.
Segundo, mesmo os que se enquistaram no governo o fizeram graças a coligações, nas quais, de modo geral, não têm peso decisivo na formulação de políticas (a exceção é a Itália).
Têm, no entanto, peso na determinação da agenda, tanto que puxaram partidos da direita civilizada para posições duras em matéria de imigração, o problema que forneceu combustível para boa parte dos grupos populistas/nacionalistas.
De qualquer forma, nos últimos tempos começou a entrar areia na roda do carro com que marchavam populistas/nacionalistas.
O mais vistoso e importante triunfo do nacionalismo (a saída do Reino Unido da União Europeia) é também o mais vistoso exemplo de como esse caminho traz mais problemas que soluções.
Philip Stephens, colunista do habitualmente comedido Financial Times, prevê "algo pior que a bancarrota" se não houver um acordo para um "brexit" suave, que o nacionalismo exacerbado rejeita.
Seria interessante, portanto, que Bolsonaro ouvisse mais o general Hamilton Mourão, seu vice, antes de dar corda ao seu nacionalismo.
A moderação de Mourão, revelada na entrevista para Mônica Bergamo na sexta-feira (23), seria útil para evitar que o governo aderisse ao Movimento. É a coligação internacional que está sendo impulsionada por Stephen Bannon, o ideólogo da extrema direita.
Bannon é elogiado tanto por um filho de Bolsonaro como pelo futuro chanceler, Ernesto Araújo, um cruzado do nacionalismo.
O Movimento fica tão à direita que nem partidos de extrema direita estão aderindo, segundo levantamento também do Guardian. Dos 13 países em que Bannon se movimentou, foi rechaçado em 10.
Encontrou apoio só na Espanha, mesmo assim no minúsculo e inexpressivo Vox, na Itália e na Holanda. Neste país, o apoio é de Geert Wilders (13% dos votos em 2017), tão tóxico que, apesar de ter sido o segundo mais votado, fica sempre excluído de qualquer negociação para formar governo.
Na Itália, a Liga, xenófoba, obteve apenas 17,4% dos votos, mas virou governo ao se aliar a outro grupo populista, o Movimento 5 Estrelas, de esquerda.
Aposto que Paulo Guedes desaconselharia aliar-se à Liga: o grupo italiano propõe aumentar o déficit público, o oposto do que Guedes tenciona fazer no Brasil. Populismo e liberalismo raramente combinam.
O mundo tem mais cores que o preto-e-branco com que o enxergam nacionalismos toscos.
Clóvis Rossi
Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.
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Populista também sofre
Bannon, ídolo dos Bolsonaros, enfrenta tropeços
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