Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

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Clóvis Rossi
Descrição de chapéu Venezuela

Apresentando a Venezuela do G

O país de Guaidó já tem assento à mesa

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A reunião de segunda-feira (4) do Grupo de Lima serviu para consolidar a Venezuela do G (de Guaidó, Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente interino).

Com isso, o Brasil tem, na sua fronteira norte, dois vizinhos em um mesmo país: a Venezuela do M (do ditador Nicolás Maduro) e a Venezuela do G.

A de Maduro tem o poder, mas não tem legitimidade e nem capacidade de ação, salvo para reprimir. A propósito: o mais recente balanço da ONG Foro Penal diz que aumentou para 966 o número de presos políticos, "o mais alto da história".

Já a Venezuela de Guaidó só tem poder, internamente, para convocar multidões para se manifestar contra a ditadura. Mas, externamente, o encontro do Grupo de Lima serviu para que assumisse funções que Maduro já não está em condições de exercer.

Funções simbólicas, por exemplo: desde a segunda-feira, a Venezuela do G integra o Grupo de Lima, formado por 13 nações latino-americanas mais o Canadá. Ou seja, é Guaidó quem fala pela Venezuela junto a seus vizinhos mais relevantes (a exceção é o México, que faz parte do grupo mas deixou de participar dos encontros desde que o esquerdista Andrés Manuel López Obrador assumiu o poder, dia 1º de dezembro).

Fala tanto que até expôs o embrião de seu plano de recuperação econômica, em videoconferência com Ricardo Hausmann, economista venezuelano que dirige o Centro para o Desenvolvimento Internacional da mitológica Universidade Harvard.

Conheço Hausmann há muitos anos, frequentador dos encontros do Fórum de Davos como fomos. É um liberal, duro crítico de Hugo Chávez desde muito antes de o chavismo tomar o atalho para a ditadura e, em seguida, para a ruína econômica, já com Maduro no comando.

O jornal Valor Econômico já havia antecipado pontos do plano Hausmann no dia 1º. O principal (e óbvio, dada a falência do país) é conseguir dinheiro grosso do Fundo Monetário Internacional. O economista fala em, no mínimo, US$ 60 bilhões (R$ 220 bilhões), para começar a azeitar as rodas enferrujadas da economia.

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, disse à Folha, por telefone, após o encontro do Grupo, que todos os países participantes estão dispostos a continuar apoiando Guaidó mesmo depois da saída de Maduro, se e quando ela se der, como é óbvio.

Acrescentou que o Grupo de Lima, agora endossado pela maioria dos membros da União Europeia (19 deles), dispõe-se a apelar também ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento para que, junto com o FMI, ajudem a Venezuela.

Como sou muito cético por profissão, ponderei a Araújo se não poderia se repetir na Venezuela o que houve na Líbia: potências ocidentais se mobilizaram para depor o ditador Muammar Gaddafi. Conseguiram, mas elas depois se afastaram e deixaram que as facções rivais internas se matassem entre elas, estabelecendo o caos.

Claro que há diferenças importantes: o Grupo de Lima quer uma ”transição pacífica por meios políticos e diplomáticos sem o uso da força”, como diz o comunicado emitido na segunda-feira. Mas, como os países latino-americanos, Brasil inclusive ou principalmente, têm seus problemas econômicos internos, ajudar a Venezuela pode sair da lista de prioridade.

Araújo acha que não será assim. “Notei especialmente de parte de Argentina e Colômbia uma disposição muito grande de continuar ajudando", disse.

Próxima estação no percurso das Venezuelas: reunião na quinta-feira (7) em Montevidéu de países que ou apoiam Maduro (Bolívia, por exemplo) ou se dizem neutros (o anfitrião Uruguai e o México) e um punhado de países europeus que apoiam Guaidó.

Mas nem a Venezuela do M nem a do G participarão oficialmente —o que só faz confirmar a esdrúxula situação criada na fronteira norte do Brasil.

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