Comecei a escrever na página A2 da Folha em janeiro de 2020, coincidindo com os anos mais tormentosos da vida brasileira desde a volta da democracia, na década de 1980. Eu sabia que passava a ocupar um espaço prestigiado e de grande repercussão, mas o que veio a seguir ultrapassou minhas melhores expectativas.
O encontro com os leitores foi uma oportunidade privilegiada de receber críticas e contribuições valiosas que enriqueceram minhas reflexões sobre o Brasil e, sobretudo, me ajudaram a continuar navegando na tempestade furiosa que se abateu sobre nós nos últimos quatro anos.
Foi uma troca tão proveitosa que, por sugestão de alguns leitores, dela nasceu o livro "Nós, Sobreviventes do Ódio" (ed. Máquina de Livros), seleção de artigos aqui publicados. A coincidência, acidental, do lançamento com minha despedida não deixa de ser a melhor forma de agradecer a todos que me acompanharam até aqui.
O livro é também um reconhecimento à relação de lealdade e confiança construída com a Folha. Nesse espaço, me permiti refletir sobre o papel do jornalismo nestes anos conturbados, tendo feito críticas, inclusive, ao próprio jornal. Devo dizer que a Folha as recebeu reafirmando seu compromisso irretocável com a autonomia dos colunistas.
Tive ainda o prazer de participar da comissão julgadora do Prêmio Folha de Jornalismo 2022, tarefa de enorme responsabilidade diante da excelência dos concorrentes. A soma dessas experiências me proporcionou um reencontro com a garota que fez vestibular para jornalismo no já longínquo 1979, acreditando na profissão como uma ferramenta para a edificação e o aperfeiçoamento permanente da democracia.
A reconstrução do país vai nos tomar muito tempo e esforço. A extrema direita constitui, hoje, força catalisadora de ódios no Brasil. Despeço-me para assumir novos desafios, sempre na trincheira pela democracia. Muitíssimo obrigada a todos e vamos em frente!
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.