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Reportagem que revelou áudio de Milton Ribeiro vence Prêmio Folha de Jornalismo 2022

Gravação mostrou elo de Bolsonaro com balcão de negócios do MEC, com pastores acusados de cobrar propina pela liberação de verbas

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São Paulo

Sete dias. Foi esse o intervalo entre a revelação de um áudio de Milton Ribeiro e a queda dele do posto de ministro da Educação.

A conversa, publicada pela Folha em 21 de março de 2022, mostrou o elo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) com um balcão de negócios na pasta em que dois pastores articulavam a liberação de verbas federais para prefeituras.

Quatro homens estão sentados, atrás deles há duas bandeiras
Bolsonaro recebe os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no Palácio do Planalto em evento no dia 18 de outubro de 2019 - Carolina Antunes/PR

Na gravação, Ribeiro dizia atender os dois religiosos a pedido do então presidente da República —o ex-ministro disse que nunca fez nada ilegal.

Dentro do caso do balcão de negócios do MEC, também surgiram indícios de que os dois religiosos cobravam propina em troca da liberação de recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), controlado pelo centrão –um prefeito chegou a relatar um pedido de propina em ouro.

A reportagem que revelou os áudios de Ribeiro, assinada por Paulo Saldaña, é a vencedora do Grande Prêmio Folha de Jornalismo de 2022, que chega à sua 30ª edição.

O caso deu sequência a várias reportagens sobre o assunto na Folha e em outros veículos, além de motivar a abertura de investigações por Polícia Federal, TCU (Tribunal de Contas da União) e CGU (Controladoria-Geral da União).

A atuação dos pastores junto ao MEC havia sido revelada antes pelo jornal O Estado de S. Paulo.

"A entrega do FNDE ao centrão consolidou, de forma sem precedentes, o uso de critérios apenas políticos para as transferências de verbas", diz Saldaña. "As primeiras informações sobre a atuação de pastores junto a Milton Ribeiro vieram, inclusive, de integrantes do próprio FNDE, que viam nos religiosos uma disputa por recursos."

O caso, às vésperas de uma eleição turbulenta, gerou uma das mais duras crises do governo Bolsonaro e fragilizou o discurso anticorrupção do ex-presidente.

O centrão surge também em outro trabalho premiado, "Codevasf de Bolsonaro: descontrole de verba e indícios de corrupção", selecionado na categoria Reportagem Exclusiva.

A Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) é uma estatal responsável por obras para reduzir desigualdades regionais, que foi entregue pelo governo Bolsonaro ao centrão em troca de apoio político. O presidente Lula (PT) deve seguir o mesmo caminho.

Em várias reportagens, os jornalistas Flávio Ferreira, Mateus Vargas e Guilherme Garcia mostraram que a estatal afrouxou licitações, abrindo assim margem para serviços precários, desvios, superfaturamentos e corrupção.

As manobras serviam para dar vazão aos recursos bilionários de emendas parlamentares, distribuídos a deputados e senadores que davam sustentação ao governo anterior no Congresso.

"Essas emendas bancaram obras marcadas pelo direcionamento político e pela falta de critérios técnicos, o que deixou a porta aberta para corrupção, formação de cartel e compra de apoio político e de votos", diz Flávio Ferreira.

O noticiário internacional também foi contemplado no Prêmio Folha. Enquanto o Brasil passava por tensão política, a Ucrânia se tornava o palco do maior conflito militar em território europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

A Guerra na Ucrânia —que envolve também uma batalha pelo controle da informação entre os países envolvidos— trouxe novos desafios para jornalistas do mundo todo. A cobertura que o repórter da Folha Igor Gielow fez do conflito recebeu o Prêmio Folha na categoria Cobertura Quente.

"Foi uma cobertura especialmente desafiadora, por ser de longo prazo e multifacetada", diz Gielow. "Nenhuma outra guerra que cobri teve tanto impacto na arquitetura geopolítica. Há um mundo antes e outro depois da invasão, que trouxe para o século 21 métodos brutais da Segunda Guerra Mundial."

Na categoria Didatismo, o trabalho selecionado foi "Cotista tem nota de corte maior que não cotista em 25% dos cursos do Sisu".

A reportagem de Angela Pinho, Raphael Hernandes e Diana Yukari mostrou como o sistema de cotas, da forma como é implementado, pode dificultar o ingresso de alunos que têm direito a elas em 1.551 graduações do país.

No período analisado pelos jornalistas, a nota mínima no Enem necessária para a aprovação era maior para cotistas de determinados grupos em um quarto dos cursos listados no Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

Com podcast e filme, prêmio mostra jornal multiplataforma

O ano de 2022 da Folha também foi marcado pelo sucesso estrondoso do podcast "A Mulher da Casa Abandonada", apresentado pelo jornalista Chico Felitti, autor da investigação que gerou a série em áudio.

O trabalho foi eleito o melhor na categoria Audiovisual. Felitti foi premiado com Magê Flores e Daniel E. de Castro (editora e editor-adjunto de podcasts da Folha), e o editor de som da série, Luan Alencar. O trabalho tem como coautores Beatriz Trevisan, Otávio Bonfá e Catarina Pignato.

A série em áudio, que conquistou uma legião de fãs, traz uma investigação sobre a moradora de uma casa em pandarecos em São Paulo —a mulher foi acusada com o marido de submeter uma empregada doméstica a condições análogas à escravidão nos Estados Unidos.

"A Mulher da Casa Abandonada foi um marco na produção de podcasts no Brasil. A série, a audiência e a repercussão do caso trouxeram a certeza do interesse de ouvintes por grandes histórias contadas em áudio", diz Magê Flores.

Já a série "Pobreza Menstrual", das jornalistas Isabella Menon e Victoria Damasceno, com a fotojornalista Karime Xavier, foi a vencedora do Prêmio Folha de Serviço.

As autoras foram a regiões de extrema pobreza para mostrar a falta de acesso de mulheres e de homens transexuais a produtos de higiene menstrual, saneamento básico e conhecimento suficiente para lidar com a menstruação.

Um dos lugares visitados pela reportagem foi a cidade de Curralinho, no Pará –a região Norte é uma das mais afetadas pelo problema.

O troféu de Iniciativa Editorial de 2022 ficou com o documentário "Desconectados: os Impactos da Pandemia na Educação Brasileira", produzido pela TV Folha em parceria com o Instituto República.

Além de Paulo Saldaña, também vencedor do Grande Prêmio, o trabalho leva a assinatura dos jornalistas Nicollas Witzel, Pedro Ladeira e Beatriz Peres, que é editora da TV Folha e foi produtora executiva do longa-metragem.

O filme, disponível online, mostra os desafios e esforços de estudantes, famílias e educadores durante a pandemia de Covid-19. O Brasil foi um dos países em que as escolas ficaram fechadas por mais tempo durante a crise sanitária –os 38 milhões de alunos de escolas públicas enfrentaram uma média de 287 dias sem aula.

A comissão julgadora do prêmio foi formada por José Henrique Mariante, ombudsman da Folha, Carlos Ponce de Leon, superintendente do Grupo Folha, e Luciana Coelho, secretária-assistente de Redação, além de Preto Zezé e Cristina Serra, colunistas do jornal.

Os premiados

GRANDE PRÊMIO
‘Ministro da Educação diz priorizar amigos de pastor a pedido de Bolsonaro; ouça áudio’
Autor: Paulo Saldaña
Data de publicação: 21/3/2022
Veículo: Política

REPORTAGEM EXCLUSIVA
‘Codevasf de Bolsonaro: descontrole de verba e indícios de corrupção’
Autores: Flávio Ferreira, Mateus Vargas e Guilherme Garcia
Data de publicação: 10/4/2022
Veículo: Política

COBERTURA QUENTE
‘A Guerra na Ucrânia’
Autor: Igor Gielow
Data de publicação: 24/2/2022
Veículo: Mundo

DIDATISMO
‘Cotista tem nota de corte maior que não cotista em 25% dos cursos do Sisu’
Autores: Angela Pinho, Raphael Hernandes e Diana Yukari
Data de publicação: 7/5/2022
Veículo: Educação

AUDIOVISUAL
‘A Mulher da Casa Abandonada’
Autores: Chico Felitti, Luan Alencar, Magê Flores e Daniel E. de Castro
Coautores: Beatriz Trevisan, Otávio Bonfá e Catarina Pignato
Data de publicação: 7/6/2022
Veículo: Podcast

SERVIÇO
‘Série Pobreza Menstrual’
Autores: Isabella Menon, Victoria Damasceno e Karime Xavier
Data de publicação: 14/2/2022
Veículo: Cotidiano

INICIATIVA EDITORIAL
‘Desconectados: os impactos da pandemia na educação brasileira’
Autores: Nicollas Witzel, Pedro Ladeira, Paulo Saldaña e Beatriz Peres
Data de publicação: 29/9/2022
Veículo: TV Folha

Os vencedores do Grande Prêmio em 30 anos

2021

"A revelação de que Pazuello negociou com intermediária de Coronavac pelo triplo do preço" (Poder), por Constança Rezende e Mateus Vargas

"Governo Bolsonaro distribuiu máscara imprópria, desviou cloroquina da malária e blindou hospitais militares" (Saúde), por Vinicius Sassine

2020

"O furo da demissão de Moro" (Poder), por Leandro Colon

2019

"Primeira Página - Beijo Gay" (Primeira Página), por José Henrique Mariante, Maicon Silva, Thea Severino e Manoella Smith

2018

"Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp" (Eleições), por Patrícia Campos Mello

2017

"Um Mundo de Muros - As barreiras que nos dividem" (Mundo), por Patrícia Campos Mello e Lalo de Almeida

2016

"Odebrecht fez obra em sítio ligado a Lula, diz fornecedora" (Poder), por Flávio Ferreira

2015

"Boyhood Bolsa Família" (Poder), por Fernando Canzian, André Felipe, Mario Kanno e Lucas Zimerman

2014

"Barbárie em Pedrinhas" (Cotidiano), por Eduardo Scolese, Juliana Coissi e Marlene Bergamo

2013

"A batalha de Belo Monte" (Ilustríssima), por Marcelo Leite, Mario Kanno, Douglas Lambert e Lalo de Almeida

2012

"Questões de ordem" (Poder), por Marcelo Coelho

2011

"O patrimônio e as consultorias que derrubaram Palocci" (Poder), por Andreza Matais, José Ernesto Credendio e Catia Seabra

2010

"Erenice usou estrutura do governo para beneficiar família e empresas" (Eleição 2010), por Andreza Matais, Rubens Valente, Fernanda Odilla e Filipe Coutinho

2009

"A fronteira da Guerra" (Mundo), por Igor Gielow

2008

"Série DNA Paulistano" (Caderno Especial), por Mariana Barros, Evandro Spinelli, Laura Salaberry e Samy Charanek

2007

"O preço de um vestido" (Dinheiro), por Antônio Gaudério

2006

"Caos penitenciário" (Cotidiano), por Laura Capriglione e Marlene Bergamo

2005

"Escândalo do mensalão" (Brasil), Renata Lo Prete

2004

"Agronegócio e pecuária de ponta usam trabalho escravo" (Brasil), por Elvira Lobato

2003

"Cobertura da Guerra do Iraque" (Mundo), por Sérgio Dávila e Juca Varella

2002

"Fraudes nos balanços da reforma agrária" (Brasil), por Eduardo Scolese e Rubens Valente

2001

"Paraíso fiscal bloqueia contas de Maluf" (Brasil), por Roberto Cosso

2000

"Conflito marca festa dos 500 anos" (Primeira Página), por Lula Marques

"O caixa-dois de FHC" (Brasil), por Andréa Michael e Wladimir Gramacho

1999

"Segredos do Poder" (Brasil), por Fernando Rodrigues e Elvira Lobato

1998

"Caderno Copa 98" (Caderno Especial), por Melchiades Filho

1997

"Mercado de voto" (Brasil), por Fernando Rodrigues

1996

"Folha reencontra 17 meninos de rua depois de quase 6 anos" (Cotidiano), por Lalo de Almeida e Rogerio Wassermann

1995

"Folha revela como empreiteiras e bancos financiaram o jogo eleitoral" (Caderno Especial), por Olímpio Cruz Neto, Marta Salomon, Lúcio Vaz, Gabriela Wolthers, Vivaldo de Souza e Gustavo Patu

1994

"Qualidade Total" (Caderno Especial), por Ricardo Gandour e Didiana Prata

1993

"Conexão Manágua" (Caderno Especial), por Fernando Rodrigues e Claudio Tognolli

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