Daniel E. de Castro

Jornalista especializado na cobertura de esportes olímpicos. Foi repórter e editor de Esporte da Folha e cobriu os Jogos de Tóquio

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Rebeca Andrade pode desafiar Simone Biles em Paris?

Rivalidade saudável entre as ginastas faz com que as duas subam o nível de suas apresentações

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"Sinto que esperam que alguém me derrote, mas, neste momento, eu ainda sou a minha maior rival." O segundo episódio da série documental "O Retorno de Simone Biles", que estreou na Netflix na última semana, termina com essa frase, dita pela própria atleta.

Os dois capítulos já publicados na plataforma focam as dificuldades vividas pela maior estrela da ginástica artística durante os Jogos de Tóquio, quando ela desistiu da maioria das disputas para cuidar da sua saúde mental, e o retorno triunfante da americana no Campeonato Mundial de 2023.

Simone Biles faz movimento agachada na trave
Simone Biles treina em Paris para os Jogos Olímpicos - Loic Venance/AFP

A força da série, que também trata de racismo, abuso e claro, performance, está principalmente nas entrevistas dadas pela ginasta, pela mãe dela e por ex-atletas que conheceram as agruras do esporte de perto.

A frase provocativa que fecha o segundo episódio é a cereja do bolo, sob medida para alimentar expectativas antes das competições femininas em Paris, a partir deste domingo (28).

Para nós, brasileiros, a pergunta que se impõe é: Rebeca Andrade pode ser essa rival e desafiar Simone Biles?

A julgar pelos resultados recentes, a brasileira tem mais chances de competir em condições de igualdade com a americana na prova de salto. Rebeca foi campeã olímpica em Tóquio sem a concorrência de Biles, mas a derrotou no último Mundial, em outubro do ano passado.

As duas atingiram um patamar altíssimo nessa prova, e uma tem levado a outra a subir o próprio nível.

Cada ginasta salta duas vezes na final, com movimentos diferentes. As armas mais poderosas de Rebeca costumam ser um Cheng (com nota de partida 5,6) e um Amanar (5,4). Agora é possível que ela coloque para jogo um movimento inédito, o Yurchenko com tripla pirueta (TTY), que poderá ser batizado como "Andrade" e terá grau de dificuldade 6.

A imagem ilustra uma sequência de movimentos de uma ginasta realizando um salto com 1080 graus de rotação. A figura é composta por várias silhuetas em diferentes posições, mostrando a trajetória da atleta saindo do chão, batendo com as mãos na trave, girando o corpo no ar e aterrissando em pé na frente
O salto Yurchenko com tripla pirueta que Rebeca Andrade pode apresentar nas Olimpíadas de Paris 2024 - Reprodução/FIG

Já a rival americana tem como "super trunfo" o Biles 2, com impressionantes 6,4 pontos de partida. Até o ano passado, Biles executava o movimento com a presença do técnico Laurent Landi ao lado do colchão de aterrissagem. Isso dava mais segurança a ela, mas também causava um desconto na nota, e ultimamente a americana abriu mão desse recurso. No chamado treino de pódio, uma espécie de ensaio geral antes das competições em Paris, ela executou o Biles 2 perto da perfeição —Rebeca guardou o TTY na manga.

"Se as duas acertarem tudo, a Simone ainda tem uma dificuldade muito mais alta", resume Chico Porath, técnico da seleção brasileira.

O fato é que, não fosse pelo potencial de Rebeca, a americana nem precisaria arriscar tanto como fez no último Mundial, quando teve falhas no Biles 2 e acabou com a prata.

Além do salto, Biles chega como favorita ao ouro na maioria das provas do programa olímpico: individual geral, solo, trave e com a equipe americana. A única exceção são as barras assimétricas.

Já Rebeca tem outras boas chances de pódio no individual geral, solo e com a equipe brasileira —e chances menores na trave e nas barras.

Ginasta com expressão compenetrada e os braços estendidos para a frente
Rebeca Andrade durante o treino de pódio das Olimpíadas de Paris - Ricardo Bufolin/Panamer

Outro fator a ser considerado é o aspecto emocional. Biles deixa claro no documentário que, apesar de estar muito melhor mentalmente hoje, não existe uma fórmula mágica para lidar com os próprios fantasmas. Por outro lado, Rebeca ainda não tinha chegado a uma edição de Jogos Olímpicos com tanta expectativa quanto desperta agora.

A saudável rivalidade é marcada por declarações e gestos de admiração das duas partes. A americana incentivou a brasileira a não desistir por causa das lesões que a atormentaram no começo da carreira e no Mundial de 2023 a reconheceu como uma adversária à altura, simulando que tirava uma coroa da própria cabeça e a colocava na de Rebeca.

Recentemente, ao podcast Café da Manhã, Rebeca disse que Biles é uma atleta "de outro mundo" e que a ginástica artística precisa dela.

Nos próximos dias, saberemos se a americana terá uma rival capaz de derrotá-la em Paris —e se essa atleta será Rebeca.

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