David Wiswell

Escritor, roteirista e comediante americano

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A direita americana teve sua liberdade de expressão tolhida pelo Twitter?

Audiências no Congresso foram delirantes, mas história do laptop de Hunter Biden foi minimizada

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Nós nos EUA damos grande importância à liberdade de expressão. O que odiamos, no entanto, é a liberdade de escuta. Isso pode ser comprovado por meio das recentes audiências hostis do Comitê da Câmara de Fiscalização do Twitter, com forte maioria republicana.

Nelas, ex-executivos do Twitter foram interrogados sobre sua alegada supressão da livre expressão de direita. Humoristas sempre nos preocupamos com a liberdade de expressão, porque, como os republicanos, não queremos sofrer consequências por dizermos coisas horríveis ou estúpidas.

A diferença é que não queremos converter isso em leis. Bem, será que os deputados republicanos têm preocupações válidas? Ou são apenas humoristas que não entenderam a piada?

A republicana Lauren Boebert, membro de comitê da Câmara que apura a atuação do Twitter na eleição de 2020, durante audiência em Washington
A republicana Lauren Boebert, membro de comitê da Câmara que apura a atuação do Twitter na eleição de 2020, durante audiência em Washington - Evelyn Hockstein - 8.fev.23/Reuters

As audiências incluíram diatribes delirantes dos membros do comitê de viés mais conspiratório, sobre terem sido censurados ou banidos do Twitter. O Twitter respondeu que, até serem sujeitos à moderação, eles haviam infringido os termos de serviço da plataforma por fazerem denúncias de fraude eleitoral ou baseadas em desinformação, além de chamados à violência que suscitaram advertências.

Ao longo das audiências, afirmações performáticas e sem sentido foram dadas, como a de que "o próximo passo será a cadeia", além de insatisfação com os alertas contra a desinformação em torno das vacinas e denúncias de que os democratas e o FBI tiveram acesso a pedidos de moderação.

Os democratas destacaram que os republicanos também tiveram acesso a pedidos de moderação e haviam feito uso deles. Chamou a atenção o pedido de Donald Trump para que fosse removido, sob as regras contra discurso de ódio, um post que alude a ele como um "pussy ass bitch" (algo como "filho da puta de marca maior"). Em última análise, o post deveria ter sido mantido, já que a afirmação é verificavelmente verdadeira e se tratava de uma questão importante de segurança nacional.

Não posso deixar de tomar nota da ironia de que essas são as mesmas pessoas que rotineiramente atacam o Black Lives Matter, mas agora estão falando de um sistema injusto e de um viés implícito que marginalizariam a voz deles. O que impõe a pergunta eterna: é errado ter preconceito contra um bitolado?

Democratas descartaram a audiência, caracterizando-a como sem mérito, citando várias instâncias de repressão de vozes de esquerda e de posts e contas de direita problemáticos que não foram moderados.

Concordo em grande medida, mas a questão principal que minimizaram foi a história do laptop de Hunter Biden publicada pelo jornal de direita New York Post antes da eleição de 2020. O artigo citou conteúdos do laptop do filho de Joe Biden, incluindo emails de um empresário ucraniano, de cuja folha de pagamento Hunter fazia parte, agradecendo por ter sido apresentado ao pai de Hunter, à época vice-presidente.

O texto também detalhou vídeos explícitos que Hunter fez dele próprio transando e fumando crack. Além disso, acusava Joe Biden de usar seu poder para fazer com que o procurador-geral da Ucrânia, que dizia estar investigando Hunter, fosse demitido. De lá para cá, o material de base do artigo foi confirmado por checadores independentes e pelo New York Times. Questionados, os ex-executivos do Twitter admitiram que foi um erro desativar o compartilhamento da história e congelar a conta do New York Post, exceto se o post sobre a história fosse deletado, devido às suposições sobre uma campanha russa de hacking e desinformação. Talvez eles estivessem "compartilhando" com Hunter quando tomaram essa decisão?

Não acho que a audiência tenha comprovado que há qualquer grande conspiração contra republicanos, mas ela trouxe à tona o problema subjacente de que é um pouco assustador que decisões sobre verdade empírica fiquem nas mãos de um aplicativo popular. Talvez não seja a melhor ideia que políticas públicas que moldam a paisagem política sejam traçadas pelo Tinder ou pelo Pokémon Go.

E, se isso acontecer, deve ser pela única empresa de tecnologia que não tem medo da verdade. Os únicos com nada a esconder e com a integridade de nunca terem sido acusados de nenhum tipo de conluio! O Pornhub. Porque eles defendem a liberdade de expressão... Desde que seja a de falar sacanagem.

Tradução de Clara Allain

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